sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

O CUIDADOR DE PORCOS

O CUIDADOR DE PORCOS
Era uma vez um homem que odiava porcos. Por ironia do destino, ele era obrigado a cuidar deles, porque não havia alternativa. Perto de sua casa, só havia uma fazenda cuja dona adorava porcos e, consequentemente, estava determinada a dedicar-se apenas à criação de suínos. Todos que moravam nas proximidades trabalhavam na fazenda. Uns gostavam do serviço mais, outros menos. Jacinto não gostava nem um pouquinho daquelas criaturinhas rosadas e escorregadias. Ele vivia dizendo: “Eu odeio porcos!”
Jacinto sentiu-se ainda mais deprimido quando Dona Iracema, a proprietária da fazenda, pediu-lhe que levasse para casa três porquinhos recém-nascidos para brincar com seu filhinho mais novo. Isso já era demais!... Jacinto passou a noite toda em claro, pensando naquela humilhação. Lembrou-se de seu sonho... Era o sonho de uma vida inteira: tornar-se relojoeiro. Consertar relógios, até que ele os consertava muito bem. Mas como poderia abrir uma lojinha com o salário que ganhava, se mal conseguia pagar o sustento de sua família?
Ficou calado a manhã toda. Era domingo e, após a missa, só lhe restava observar o filhinho querido brincando com aquelas criaturinhas detestáveis. O sorriso de Juninho enchia seu coração de esperança, e ele até admitiu para si mesmo que, perto de seu filho, aqueles bichinhos não pareciam tão desagradáveis. Olhou-os, olhou-os melhor e tornou a olhá-los.
De repente, Jacinto teve uma ideia e chamou seu filho do meio. Jorge, curioso, aproximou-se do pai e ficou ainda mais intrigado quando ele lhe pediu que desenhasse um porquinho exatamente igual àqueles que Juninho acariciava. Jorge sabia desenhar muito bem e, embora estranhasse o pedido de seu pai, atendeu-o prontamente. Jacinto olhava para o desenho em suas mãos e sorria, sem que sua mulher e seus dois filhos conseguissem compreender o motivo de tanta satisfação.
Não demorou muito para que Jacinto perguntasse sobre Juvenal, seu terceiro filho. Juvenal estava serrando um pedaço de madeira para consertar a perna da mesa de jantar. Jorge, a pedido do pai, foi chamá-lo, e ele, largando o serviço a contragosto, foi ver o que o pai queria. Juvenal surpreendeu-se ao ouvi-lo pedir a Jorge que refizesse o desenho em uma folha de madeira, para que ele pudesse recortá-lo com o serrote.
Os dois obedeceram sem questionar. Enquanto isso, Jacinto entrou em casa para pegar um relógio e um vidro de cola. Assim que o trabalho dos filhos ficou pronto, ele colou o relógio no centro da figura de madeira e achou que tinha ficado uma beleza. Laurinda, sua esposa, disse que o enfeite ficaria ainda mais bonito depois de pintado e envernizado. Os dois filhos mais velhos concordaram e fizeram o acabamento. A família toda gostou da obra terminada e combinou de fazer mais peças iguais àquela.
Os reloginhos começaram a vender. Logo, outros animaizinhos foram acrescidos aos porquinhos de madeira e, em pouco tempo, a família construiu uma lojinha ao lado da casa, não só para vender relógios, mas também para efetuar consertos. Com muito trabalho e dedicação, o sonho de Jacinto tornou-se realidade, e ele pôde finalmente dizer adeus à fazenda de criação de porcos.
FIM

Sisi Marques

BASTA O SONHO SENTIR O CALOR DA PAIXÃO

BASTA O SONHO SENTIR O CALOR DA PAIXÃO

Satisfazer o desejo do coração,
E deixar a razão encontrar
Motivos para segui-lo.

Não refrear o desejo,
Embora a loucura pareça
Estar batendo à porta.

Calar o julgamento,
A dúvida e a recriminação.
Despedir-se das incongruências...
Abandoná-las ao relento,
E abrigar apenas
A harmonia.

O hoje é tudo o que se tem.
Amanhã pode ser tarde demais
Para se arrepender de ter
Virado as costas para o sonho,
E ter recusado o seu abraço.

Quando o sonho se afasta magoado,
Ele se esconde nas obrigações
E nas distrações da vida.

 Apesar disso, ele é sensível
Ao chamado do coração.
Basta ele sentir o calor
Da paixão, para retornar
Ainda mais atraente
E encantador.



Sisi Marques

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

ERA UMA VEZ UMA BRUXINHA...

                          
                     ERA UMA VEZ UMA BRUXINHA...


Era uma vez uma bruxinha muito linda que adorava contar histórias. Ela era meiga, bondosa e simpática. Suas histórias encantariam certamente, se não fossem contadas para bruxas que adoravam contos de bruxa e não contos de fada.

Quem me contou essa história preferiu omitir o nome da bruxinha, para que suas amigas não descobrissem o seu atual paradeiro. A verdade é que a nossa bruxinha fugiu do reino das bruxas e veio se esconder neste blog. Ela tem lindas histórias para contar, mas apenas as crianças, e os adultos que têm o coração puro, como o coração de uma criança, conseguirão ouvi-las e compreendê-las.







O meu nome é Verônica. Eu gostaria que você retirasse, da sua imaginação, a próxima história. Ela começa assim:

ERA UMA VEZ UMA FADINHA...

Desenhe uma fadinha e conte uma história sobre ela.

Depois divirta-se com o caça-palavras abaixo:








Sisi Marques

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

DELÍCIAS DA VIAGEM


DELÍCIAS DA VIAGEM

Se você fechar os olhos
E disser: “Eu acredito.”,
As fadinhas da realização
Voarão ao seu encontro
E começarão a tecer
Infinitas oportunidades.
Se você fechar os olhos
E disser: “Eu acredito.”,
Luzes brilhantes e coloridas
Preencherão a sua mente
E o seu coração, e expulsarão
Os fantasmas da dúvida.
Se temos asas e não conseguimos voar
É porque não acreditamos no voo.
Se o voo é realmente impossível,
Por que Deus nos deu as asas?…
As asas representam o desejo
Que faz o nosso coração
Transcender e buscar
A realização do sonho.
O sonho pode não ser o fim
Mas o início da identificação
Da nossa essência com a sua
Verdadeira vocação.
Correr atrás do sonho
E se desesperar porque
Ele “não se realiza”,
É o mesmo que fechar
Os olhos e o coração
Em pleno voo,
E ficar alheio
Às delícias
Da viagem.

Sisi Marques

O REI, FEIANILDA E ROSEBELINHA


O REI, FEIANILDA E ROSEBELINHA

O emissário do rei chegou receoso ao vale das bruxas.
Felizmente, ele foi bem recebido; especialmente após ter dito
Que o rei solicitava o comparecimento da bruxa mais feia,
Que havia no vale, ao palácio, com a máxima urgência.
Duas bruxas de aparência aterrorizante trouxeram, à sua presença,
Outra bruxa com o rosto coberto por um véu negro, e disseram:
“Esta é Feianilda; somos bruxas e admitimos que não somos belas,
Mas uma bruxa mais feia do que ela, no vale, certamente não há.”
O emissário agradecido por não ter sido obrigado
A contemplar o rosto, que ele acreditava ser pavoroso,
Despediu-se rapidamente, e conduziu a bruxa ao palácio.
O rei recebeu Feianilda sem se aventurar a pedir-lhe
Que descobrisse o rosto, que ele acreditava ser pavoroso.
E, após alguns minutos de hesitação, encorajou-se a dizer:
“Casei-me muito jovem, e minha rainha faleceu no dia
Em que minha adorada filhinha Rosebelinha nasceu.”
Após hesitar novamente, ele se encorajou a acrescentar:
“Rosebelinha já tem cinco anos e não consegue falar.
Um sábio disse que ela só falaria depois que a bruxa
Mais feia, que havia no vale das bruxas, viesse visitá-la.”
Feianilda, que permanecera calada até então, disse:
“Sua filhinha, desejo conhecer; mas receio que ela
Possa se assustar, porque sou muito feia, tão feia
Que, o meu rosto, sempre fui obrigada a esconder.”
O rei surpreendeu-se com a doçura que havia
Na voz de Feianilda; e conduziu-a, sem demora,
Ao quarto de Rosebelinha, que ainda não falava.
E o rei, receando que sua filhinha se assustasse
Ao ver o rosto, que ele acreditava ser pavoroso,
Resolveu esperar até que o encontro terminasse.
E Feianilda levantou o véu para que a menina
Pudesse contemplar seu rosto, e Rosebelinha
Sorriu, porque ela se parecia com sua mãezinha.
O rei, confuso, emocionou-se quando sua filhinha
Apontou para o quadro na parede e disse a Feianilda:
“Aquela é minha mãezinha; um anjo enviou você
Para ficar no lugar dela, cuidando de mim e do papai.”
Feianilda era belíssima, e o seu coração era boníssimo.
As bruxas do vale a consideravam feia e desajeitada,
Porque Feianilda, em nada, se parecia com elas.

Sisi Marques

IGUAIS APENAS NA APARÊNCIA


 IGUAIS APENAS NA APARÊNCIA
Eu, Caetano Augusto Petrarca dos Anjos, vou lhes mostrar que ninguém pode enganar alguém, especialmente a si mesmo, por muito tempo. Há muitos e muitos anos, um reino era governado por dois irmãos gêmeos: Lúcio e Luciano. Os olhos poderiam se enganar ao contemplá-los, mas os ouvidos sabiam distinguir perfeitamente um do outro. Lúcio era generoso e compreensivo, e se esmerava em evidenciar o lado bom das coisas e das pessoas. Luciano, por sua vez, parecia deleitar-se em revelar falhas e defeitos com sua língua mordaz. O rei que realçava as virtudes era sincero e íntegro, enquanto o outro, que só descortinava o que as pessoas tentavam esconder, era sagaz e dissimulado, e conseguia sempre tirar proveito da situação. Certo dia, a princesa Safira, que ainda não os conhecia, visitou o reino. Os dois reis apaixonaram-se pela recém-chegada e pediram sua mão em casamento. Confusa, ela não sabia qual dos dois escolher e acabou preferindo Luciano. Não demorou muito para que a infeliz princesa compreendesse que havia feito a escolha errada. O seu coração secretamente passou a pertencer a Lúcio, que, tristonho e calado, cultuava o desamor e a solidão. Para a felicidade dos dois, entretanto, os defeitos da adorável princesa logo começaram a saltar aos olhos de Luciano, e ele resolveu se separar. Luciano fez mais do que isso: decidiu dividir o reino. Safira casou-se com Lúcio, e os dois irmãos nunca mais voltaram a se encontrar.
Sisi Marques

O MAGO, A CRIANÇA E O GIGANTE












PRIMEIRA MENSAGEM DE VERÔNICA

Caetano,

Sou eu, Verônica. Quando você ler esta mensagem, ficará tão feliz quanto eu estou agora. Este nosso contato só está sendo possível graças à magia de Lorena, a Guardiã do Coração das Fontes da Juventude.

A sua história sobre Maria Luíza chegou aos nossos ouvidos e ao nosso coração. Continue reconstruindo as histórias... Você não imagina o quanto elas nos alegram e nos confortam.

Eu tenho um novo quebra-cabeça para você, composto de cinco peças:
1ª) uma caverna;
2ª) uma fogueira;
3ª) um mago;
4ª) uma criança;
5ª) um gigante.

Tente montar uma história utilizando essas cinco partes. Eu te amo.

 
Sisi Marques



 
O MAGO, A CRIANÇA E O GIGANTE

Irânio era um gigante que se refugiava em cavernas, para evitar o confronto com as pessoas que ele considerava “normais”. Os seus pais não eram gigantes e tiveram dozes filhos. Foi apenas ele que cresceu demasiadamente.

Para evitar encontros indesejáveis, Irânio costumava acender uma fogueira em frente à caverna que ele estivesse ocupando. A fogueira, que tinha a finalidade de sinalizar sua presença para afastar curiosos, certo dia, porém, atraiu a atenção de um mago que desejava testar a eficácia de um pó mágico que um duende lhe oferecera em troca de abrigo.

O mago, que se chamava Miraldo, quando se aproximou da fogueira, levantou os braços e começou a mover os dedos, como se estivesse extraindo fios invisíveis do fogo e do ar. Uma criança, que também desconhecia o significado da fogueira, parou de procurar um lugar para se esconder de seu amiguinho, e perguntou ao mago: “Por que você acendeu uma fogueira em frente a uma caverna; e fica aí, dançando de modo tão estranho?!... Você mora nessa caverna?!...”

Miraldo não respondeu. Simplesmente endereçou um olhar de enfado a Gilmar, desejando que ele se afastasse. Mas o garoto, em vez de ir embora, ficou parado, olhando para a entrada da caverna pensando que aquele seria um bom lugar para se esconder. Finalmente, ele perguntou: “Posso me esconder lá dentro?!”

O mago não teve tempo de responder, porque tanto ele quanto o garoto se assustaram ao ver sair da caverna um gigante de aparência aterradora. O garoto se escondeu atrás do mago, e o mago levantou novamente os braços e, logo em seguida, abaixou uma das mãos para retirar, do bolso da túnica, o saquinho que continha o pó que o duende lhe ofertara. No instante seguinte, o pó do duende entrou em contato com o fogo e causou uma tremenda explosão, que encheu o ar de fumaça.

Os três, que haviam fechado os olhos para protegê-los, quando tornaram a abri-los, se surpreenderam com a mágica que resultara do encontro entre o pó mágico e o fogo: Irânio deixara de ser um gigante. Intrigado, ele perguntou ao mago: “Como você conseguiu fazer isso?!... Você deve ser mesmo muito poderoso!...”

Dando de ombros, Miraldo respondeu: “Eu teria certamente me tornado um mago poderosíssimo se, em vez de desejar que você se tornasse um homem comum para que eu pudesse enfrentá-lo, eu tivesse desejado me tornar o maior feiticeiro que já existiu.”

Gilmar, que era muito esperto, sugeriu: “Podemos deixar que pensem que foi a sua magia que reduziu o gigante de tamanho. Todos o considerarão um grande mago. Agora eu posso ou não usar essa caverna como esconderijo?!... O meu amigo já deve estar chegando!...”

F I M

 
Sisi Marques

NO AMOR E NA ESPERANÇA, TAMBÉM HÁ MAGIA


 
 
 
  
RECONSTRUINDO A HISTÓRIA DE VERÔNICA

Eu, Caetano Augusto, tenho pensado muito em Verônica... E fico imaginando como seria a história que ela não conseguiu contar. Se alguém tivesse parado por alguns minutos para ouvi-la, poderia ter evitado que ela imergisse naquela dimensão.

Verônica disse que se lembrava apenas de uma pequena parte da história: havia uma jovem que vestia uma camisola longa, feita de um tecido branco, espesso e macio.

Eu pedi a Verônica que se concentrasse para ver se conseguia se lembrar de mais algum detalhe, e ela disse que a jovem caminhava descalça pela floresta. Ela segurava uma vela fixada em um castiçal improvisado. Ela parecia empenhada em uma busca, mas Verônica não soube me dizer o que a jovem procurava.

Eu tentarei inserir essa jovem em uma história. Quando a ideia surgir, começarei a escrevê-la.

Sisi Marques

 

 
 
 
NO AMOR E NA ESPERANÇA, TAMBÉM HÁ MAGIA

Maria Luíza era uma jovem que realizava diversos trabalhos nas casas vizinhas, para garantir sua sobrevivência. Ela costumava ajudar na faxina, na costura, na cozinha, na lavanderia... Mas não havia quem conseguisse convencê-la a cuidar de crianças. Além de parecer não gostar de crianças, ela não permitia a aproximação de nenhum rapaz. Os pretendentes entristecidos costumavam dizer que Maria Luíza possuía uma rocha no lugar do coração. Embora ninguém conhecesse o seu passado, todos acreditavam que poderiam adivinhar o seu futuro: ela se afogaria em um mar de solidão...

Maria Luíza descansava apenas no domingo. Nesse dia, ela simplesmente desaparecia; e, mesmo que alguma emergência surgisse, ninguém conseguiria encontrá-la. Na verdade, o afastamento daquela rotina já se iniciava no sábado, à noite. Ela vestia o melhor traje que possuía: uma camisola branca e longa, confeccionada com um tecido espesso e macio.

Maria Luíza, após vestir-se, colocava uma vela no suporte improvisado e se embrenhava descalça na floresta. Ela parava em toda a árvore que encontrava e se agachava, aproximando a luz da vela de suas raízes. Desanimada levantava-se e, após amarrar uma fita em um dos galhos da árvore examinada, caminhava em direção a outra árvore. Quando amanhecia, ela interrompia a busca e seguia um atalho que a conduzia à casa de uma mulher que, ao vê-la chegar, começava a reclamar: “Está atrasada como sempre!... Ainda não desistiu de encontrá-los?!... Perde o seu tempo!... Aproveite o domingo para descansar... Do contrário, não lhe sobrará energia para enfrentar o trabalho que a espera durante a semana.”

Maria Luíza já havia desistido de perguntar à bruxa por que ela havia reduzido seu marido e sua filhinha de tamanho, e os escondera em uma casinha na base de uma das árvores. Certo dia, ao ouvir uma conversa entre a bruxa e uma de suas amigas, ela conseguiu descobrir o motivo. A bruxa havia formulado uma teoria e desejava que Maria Luíza confirmasse a sua veracidade: “No mundo dos humanos, ninguém é insubstituível.”

A princesa Maria Luíza compreendeu que a bruxa Ernestina, ao separá-la do príncipe Agenor e de sua filhinha Luíza Maria, e ao colocá-la em uma situação que ela teria que trabalhar arduamente para sobreviver, esperava que ela procurasse o carinho e o conforto perdidos em um novo lar. Mas o que Ernestina não sabia era que o coração de Maria Luíza pertencia a Agenor e a Luíza Maria.

Com o passar dos dias, das semanas e dos meses, o amor e a esperança de Maria Luíza, em vez de definharem, se fortaleceram. E Ernestina, que desconhecia a magia que há no amor e na esperança, ficou ensimesmada quando o seu feitiço se desfez e perdeu toda a eficácia contra aquele casal de amantes e sua filhinha.

Sisi Marques

A RAINHA E O JOVEM QUE SABIA VALORIZAR AS PESSOAS









COLECIONADOR DE FRAGMENTOS DE

HISTÓRIAS

As histórias que já foram escritas não me causam preocupação. Eu, Caetano Augusto, decidi me tornar um colecionador de fragmentos de histórias. A minha imaginação há de coletá-los e combiná-los harmonicamente, para que formem histórias atraentes e cativantes.Quanto mais histórias eu conseguir criar, mais rostos se iluminarão de alegria na dimensão dos personagens ignorados.

Eu já tenho quatro fragmentos:

1º) Uma bruxa cujos feitiços não funcionavam;
2º) Um sapateiro que não gostava dos sapatos que confeccionava;
3º) Um cozinheiro cujas receitas não agradavam ao paladar da rainha;
4º) Um rapaz que não valorizava o seu maior talento: levar alegria às pessoas.

Eu me pergunto se existe uma história que possa ser formada a partir das quatro peças desse quebra-cabeça... Quando eu tiver uma ligeira ideia de como a história será, começarei a registrá-la para que ela não se perca no labirinto de minhas distrações.

Sisi Marques


 
A RAINHA E O JOVEM QUE SABIA VALORIZAR AS PESSOAS


Há muitos e muitos anos, em uma terra distante, todos os habitantes do reino serviam à jovem e orgulhosa rainha. Por mais que seus súditos se esforçassem para satisfazer seus desejos, raramente conseguiam agradar-lhe.
O sapateiro, de tanto ouvi-la reclamar de seus sapatos, passou a acreditar que eles eram feios e de má qualidade. A bruxa, que perdera sua magia fazendo surgir lindos vestidos para a vaidosa rainha, sentia-se triste e deprimida. O cozinheiro, após receber o impacto de tantas críticas por parte de Sua Majestade, sentia-se frustrado e já pensava em abandonar a profissão. Vários outros exemplos poderiam ser citados porque a atitude soberba da rainha, que tanto a envaidecia, humilhava seus súditos e contribuía para que eles se sentissem desvalorizados.

Certo dia, ao tomar conhecimento da chegada de um rapaz ao seu reino, a rainha ordenou aos guardas que fossem buscá-lo imediatamente, porque ela desejava vê-lo. Orgulhosa como era, a rainha não confessaria nem a si mesma que sentira algo diferente quando os seus olhos tocaram os olhos do jovem. Procurando disfarçar a emoção que sentia, a rainha perguntou: “O que você sabe fazer?” Ele respondeu: “Nada em especial.” A rainha disse em tom enérgico: “Se deseja permanecer no meu reino, trate de encontrar um modo de se tornar útil.”

E o jovem tornou-se mais do que útil: tornou-se indispensável, porque sabia valorizar e cativar as pessoas. À bruxa, ele dizia: “Confie em si mesma, e sua magia acabará reflorindo.” Ao sapateiro, ele dizia: “Os sapatos que você confecciona são resistentes e duráveis... Você não deveria caprichar tanto nos sapatos da rainha... Faça-os belos e pouco resistentes para que se desgastem logo, e a rainha possa satisfazer a sua vaidade, substituindo-os com frequência.” Ao cozinheiro, ele dizia: “Quando você for servir à rainha, em vez de perguntar a ela se a refeição está do seu agrado, elogie o penteado ou o vestido que ela estiver usando...” E, assim, continuava o simpático rapaz, sempre encontrando algo gentil e animador para dizer.

A rainha, que já estava inclinada a se apaixonar pelo jovem, alegrou-se ao verificar que as reclamações diminuíram, e os elogios aumentaram desde a sua chegada. Quando ele falou em partir, ela lhe pediu que ficasse, alegando docemente que aquele reino não poderia permanecer sem um rei.


Sisi Marques
 

CAETANO E VERÔNICA

  CAETANO E VERÔNICA
 
Caetano e Verônica são personagens de Sisi Marques.
Quem desejar saber mais sobre Caetano Augusto Petrarca dos Anjos, poderá acessar os links abaixo:
 
 
 
 

 
CAETANO AUGUSTO PETRARCA DOS ANJOS  




VERÔNICA

A GUARDIÃ DA ÁRVORE DA LONGEVIDADE


A GUARDIÃ DA ÁRVORE DA LONGEVIDADE

Vários rapazes, desejosos de obter a mão da princesa,
Entraram na floresta encantada, a pedido do rei,
Para procurar a árvore cujos frutos, segundo a lenda,
Curavam e concediam a tão sonhada longevidade.
Desanimados, eles deixavam a floresta atordoados,
Porque as árvores, para confundi-los, mudavam de lugar.
Um deles, entretanto, não desistiu da busca, porque
Ele era excelente observador e não se deixou enganar.
Os seres encantados, receando que ele alcançasse a árvore,
Cercaram-no e não pouparam esforços para distraí-lo.
Ele, porém, prosseguia sem dar-lhes a mínima atenção.
Ele já estava bem próximo à árvore, quando, de repente,
Uma fada belíssima, a guardiã da árvore da longevidade,
Surgiu à sua frente, e ele se ajoelhou, enquanto ela dizia:
“Se o fruto da minha árvore você retirar, quem o comer
Aqui conseguirá retornar, e a árvore não será mais minha.
Preciso dela para continuar existindo; e o rei a deseja
Para satisfazer sua vaidade e sua sede de poder.”
O jovem, ainda ajoelhado, confessou estar apaixonado.
E a fada reconheceu, no brilho do seu olhar, o guardião
Com o qual, durante séculos, ela tanto sonhara.
Sisi Marques

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

A MISTERIOSA ESTÁTUA DE CRISTAL LILÁS

       A MISTERIOSA ESTÁTUA DE CRISTAL LILÁS

Caminhando pelo corredor de um museu,
Os olhos de Francisco se fixaram
Em uma estátua de cristal lilás,
Com as asas e os pés de madeira.
Encantado e, ao mesmo tempo,
Intrigado com o que via,
Ele se lembrou de já tê-la visto em sonho,
Enfeitando um canteiro de jardim.


Nenhuma inscrição havia,
E, cansado como ele estava,
Só lhe restava encerrar o passeio
E ir para casa descansar
Do exaustivo dia de trabalho.
Dois dias depois, ele retornou ao museu
Para rever a fascinante estátua,
Mas ela já não estava mais lá.
Os funcionários negaram sua existência,
E afirmaram que aquele corredor
Sempre estivera vazio.
Sisi Marques

MAURÍCIO E A FADA DAS CAMPÂNULAS

MAURÍCIO E A FADA DAS CAMPÂNULAS
 
Embora as flores das campânulas
Nunca tivessem tocado, Maurício,
Embevecido, já as tinha visto sorrir.
 
E o seu coração também sorriu
Quando ele viu, certo dia,
A fada das campânulas.
 
O jardineiro Maurício,
Que nunca tinha visto uma fada,
Que nem mesmo acreditava
Que fadas existissem,
Descobriu o amor nos olhos
Da fada das campânulas.
 
Maurício estava noivo,
E desistiu do casamento;
A fada das campânulas
Roubara o seu coração.
 
Ele cuidava das flores;
E, apenas para elas, vivia
Até que um dia
A fada das campânulas,
Para convidá-lo
A morar em seu reino,
Reapareceu.
 
O jovem jardineiro
Não hesitou em segui-la.
E, desde aquele dia, ninguém
Nunca mais o viu.
 
 
Sisi Marques

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

DOCE VENTURA DE ESCREVER

DOCE VENTURA DE ESCREVER
 
Quando escrevo, vivo intensamente.
As horas parecem minutos,
E eu não sinto o tempo passar.
Meus dedos percorrem o teclado,
Como se nem dedos e nem teclado existissem,
Como se houvesse apenas situações imaginárias
Esperando para se materializar.

Começar é fácil.
Difícil, é ter que parar.
Eu sonho acordada,
E viajo sem sair do lugar.
Dou vida a seres que não existiam,
E passo a ouvi-los com atenção.
Parece loucura, é verdade,
Mas loucura maior seria,
Em nome da lucidez,
Calar a voz do coração.

E, então, eu me pergunto:
Se eles não existiam,
Como se tornaram tão reais?
Eles sempre me surpreendem
E começam a falar quando menos espero,
Mostrando-me como a história deve continuar.

Quando estou no caminho certo,
A história flui sem tropeços.
Quando sigo um atalho que não deveria,
Eles se calam, e eu me perco num labirinto sem fim.
Então, eu paro, sento e espero
Até que um deles venha ao meu encontro
E me diga que caminho devo seguir.

Viver cercada de personagens é doce ventura.
Não há trabalho mais prazeroso e fascinante do que
Compreender os seus sonhos e os seus desejos,
Traduzir em palavras seus pensamentos e emoções,
Observá-los atuando na tela da minha imaginação!...
Eu não sei se eles existem porque os criei,
Ou se eu existo pelo fato de tê-los criado.
Eles dão sentido à minha vida,
E é sempre um prazer reencontrá-los.

Mesmo quando me distancio de alguma história,
Não importa o tempo que eu passe sem visitá-la,
Ao reencontrá-la é como se nunca a tivesse deixado.
Os cenários são sempre os mesmos,
E os personagens sorriem
E voltam a me falar sobre seus sonhos.
Não há cobrança; há confiança.
Não há cansaço; há vitalidade.

Deixar de escrever,
É parar de viver.
Se sonhar é viver,
Eu vivo porque escrevo.
E os personagens me vivificam
Quando se expressam através de mim.
 
Sisi Marques