O CUIDADOR DE PORCOS
Era uma vez um
homem que odiava porcos. Por ironia do destino, ele era obrigado a cuidar
deles, porque não havia alternativa. Perto de sua casa, só havia uma fazenda
cuja dona adorava porcos e, consequentemente, estava determinada a dedicar-se
apenas à criação de suínos. Todos que moravam nas proximidades trabalhavam na
fazenda. Uns gostavam do serviço mais, outros menos. Jacinto não gostava nem um
pouquinho daquelas criaturinhas rosadas e escorregadias. Ele vivia dizendo: “Eu
odeio porcos!”
Jacinto
sentiu-se ainda mais deprimido quando Dona Iracema, a proprietária da fazenda,
pediu-lhe que levasse para casa três porquinhos recém-nascidos para brincar com
seu filhinho mais novo. Isso já era demais!... Jacinto passou a noite toda em
claro, pensando naquela humilhação. Lembrou-se de seu sonho... Era o sonho de
uma vida inteira: tornar-se relojoeiro. Consertar relógios, até que ele os
consertava muito bem. Mas como poderia abrir uma lojinha com o salário que
ganhava, se mal conseguia pagar o sustento de sua família?
Ficou
calado a manhã toda. Era domingo e, após a missa, só lhe restava observar o
filhinho querido brincando com aquelas criaturinhas detestáveis. O sorriso de
Juninho enchia seu coração de esperança, e ele até admitiu para si mesmo que,
perto de seu filho, aqueles bichinhos não pareciam tão desagradáveis. Olhou-os,
olhou-os melhor e tornou a olhá-los.
De
repente, Jacinto teve uma ideia e chamou seu filho do meio. Jorge, curioso,
aproximou-se do pai e ficou ainda mais intrigado quando ele lhe pediu que
desenhasse um porquinho exatamente igual àqueles que Juninho acariciava. Jorge
sabia desenhar muito bem e, embora estranhasse o pedido de seu pai, atendeu-o
prontamente. Jacinto olhava para o desenho em suas mãos e sorria, sem que sua
mulher e seus dois filhos conseguissem compreender o motivo de tanta
satisfação.
Não
demorou muito para que Jacinto perguntasse sobre Juvenal, seu terceiro filho.
Juvenal estava serrando um pedaço de madeira para consertar a perna da mesa de
jantar. Jorge, a pedido do pai, foi chamá-lo, e ele, largando o serviço a
contragosto, foi ver o que o pai queria. Juvenal surpreendeu-se ao ouvi-lo
pedir a Jorge que refizesse o desenho em uma folha de madeira, para que ele
pudesse recortá-lo com o serrote.
Os
dois obedeceram sem questionar. Enquanto isso, Jacinto entrou em casa para
pegar um relógio e um vidro de cola. Assim que o trabalho dos filhos ficou
pronto, ele colou o relógio no centro da figura de madeira e achou que tinha
ficado uma beleza. Laurinda, sua esposa, disse que o enfeite ficaria ainda mais
bonito depois de pintado e envernizado. Os dois filhos mais velhos concordaram
e fizeram o acabamento. A família toda gostou da obra terminada e combinou de
fazer mais peças iguais àquela.
Os
reloginhos começaram a vender. Logo, outros animaizinhos foram acrescidos aos
porquinhos de madeira e, em pouco tempo, a família construiu uma lojinha ao
lado da casa, não só para vender relógios, mas também para efetuar consertos.
Com muito trabalho e dedicação, o sonho de Jacinto tornou-se realidade, e ele
pôde finalmente dizer adeus à fazenda de criação de porcos.
FIM
Sisi Marques