Teófilo era um homem
muito impaciente. Aborrecia-se com frequência, queixava-se de tudo, irritava-se
facilmente, e nada parecia agradar-lhe e muito menos trazer-lhe a paz de
espírito tão desejada. É verdade: ele se agitava e mergulhava na insatisfação
constantemente, porque não conseguia encontrar a serenidade que buscava.
Seus amigos o chamavam
de Téo. Os pouquíssimos amigos que ele tinha não conseguiam livrá-lo da
solidão. E Téo afastava-se cada vez mais do convívio social, porque considerava
as pessoas egoístas e fúteis. É verdade: num mundo virado de cabeça para baixo,
ele se considerava o único que ainda possuía os pés no chão.
E Téo, eu posso
chamá-lo assim porque já fui considerado seu amigo... Como eu ia dizendo, Téo gostava
muito de ler, embora nunca apreciasse o que lia. E, certo dia, seus olhos
esbarraram em um poema que lhe pareceu absurdo: “Palavra do Dia”. Era um
soneto, e Téo sorriu sarcasticamente ao observar que os versos, nos dois
quartetos e nos dois tercetos, eram exatamente iguais: todos eles possuíam
cinco vezes a palavra “calma”. Eis o poema, exatamente como Téo o encontrou no
livro:
PALAVRA DO DIA
Calma, calma, calma,
calma, calma...
Calma, calma, calma,
calma, calma...
Calma, calma, calma,
calma, calma...
Calma, calma, calma,
calma, calma...
Calma, calma, calma,
calma, calma...
Calma, calma, calma,
calma, calma...
Calma, calma, calma,
calma, calma...
Calma, calma, calma,
calma, calma...
Calma, calma, calma,
calma, calma...
Calma, calma, calma, calma,
calma...
Calma, calma, calma,
calma, calma...
Calma, calma, calma,
calma, calma...
Calma, calma, calma,
calma, calma...
Calma, calma, calma,
calma, calma...
Téo esboçou um sorriso
de desdém quando leu o nome da autora desconhecida que, no mesmo instante, ele
esqueceu.
Meses depois, no
entanto, Téo adoeceu, e o desassossego se avolumava dentro do seu próprio ser.
Téo chegou a acreditar que precisasse de ajuda. E, numa Sexta-Feira Santa, após
um breve descanso que fizera depois da refeição, ele ainda estava deitado
quando ouviu o coro da procissão que passava em sua rua. No início, ele se
aborreceu e pensou em levantar e fechar a janela até que o canto cessasse, mas
ele permaneceu deitado e, naquele momento, o poema da escritora desconhecida
visitou-lhe a mente. O nome da autora ele não conseguiu se lembrar... Apesar
disso, a única palavra, que repetida setenta vezes compunha o poema, saltou-lhe
à mente. E Téo começou a prestar atenção em sua respiração. Ele passou a
respirar profundamente. Ele enchia os pulmões de ar e, enquanto o liberava,
pronunciava em pensamento a palavra “calma”. Téo inspirou o ar e o expirou,
acompanhado da palavra “calma”, setenta vezes.
Pela primeira vez em
sua vida, ele se acalmou e percebeu que a agitação não vinha de fora e sim do
seu próprio interior. E foi só naquele momento que Téo descobriu qual era a sua
prioridade na vida: “sentir-se confortável em sua própria pele”.