Para Tibério, era
difícil despertar e sair da cama porque, durante o sono, os seus sonhos se
mesclavam com a realidade. Tibério era uma pessoa simples. A moda e a opinião alheia
não o seduziam. Ele vivia de um modo que não atraía a atenção das pessoas ao
seu redor.
Tibério tinha um sonho
que se assemelhava mais a um desejo secreto: quando ele saía para caminhar por
entre as árvores robustas e frondosas, ele costumava parar e sentar-se nas
pedras que havia nas proximidades de uma enorme clareira. Tibério passava horas
admirando a inspiradora paisagem. Com os olhos perdidos entre a realidade e a
sua imaginação, ele pensava: “Essa clareira é um lugar perfeito para se
construir um castelo.”
Certo dia, em seu
sonho, ele ouviu uma voz que parecia vir da copa de uma árvore gigantesca. Ele
não conseguiu ver ninguém, mas ouviu claramente a voz que dizia: “Essas pedras,
que você vê ao redor da clareira, são mágicas. Com elas, você poderá construir
o castelo que sempre sonhou. Basta começar a empilhá-las... Mas preste muita
atenção: as pedras têm que ser reunidas lentamente, no máximo três por dia, e a
construção do castelo deverá ser mantida em segredo.” Quando Tibério acordou,
levantou-se rapidamente e se dirigiu para a clareira. As pedras ao redor eram idênticas
às que ele vira em seu sonho. Ele empilhou três pedras e voltou para casa. No
dia seguinte, ele colocou mais três e, assim, sucessivamente.
Aos poucos, a
construção tornava-se visível, e começou a chamar a atenção de curiosos. A
todos que perguntavam a Tibério o que ele estava fazendo, ele respondia: “Estou
amontoando as pedras na clareira apenas para sobrar mais espaço para os
animaizinhos e para as carroças.” As pessoas pareciam não acreditar no que ele
dizia, e continuavam cobrindo-o de perguntas. Como ele precisava acrescentar apenas
três pedras diariamente, era fácil fazer o trabalho e esquivar-se.
Houve um dia em que ele
duvidou que aquela montanha de pedras pudesse adquirir o formato de um castelo.
Ele olhou ao redor e contemplou as três pedras restantes. Tibério perguntou-se
onde encontraria mais pedras iguais àquelas... Confuso e descrente, ele apanhou
as pedras. Colocou a primeira, a segunda e a terceira... Ele se afastou e ficou
olhando como se esperasse que algo extraordinário acontecesse...
Cansado de tanto
esperar, ele virou as costas e começou a caminhar. Mas ele retornou quando
ouviu aquela mesma voz que ouvira em seu sonho dizer-lhe: “Feche os olhos e
confie na sua imaginação... O serviço está terminado... Não existe mais nenhum
obstáculo entre você e a realização do seu sonho... Agora, abra os olhos...”
Quando Tibério abriu os
olhos e deparou-se com o castelo que imaginara, notou que não estava sozinho.
Uma multidão havia se aproximado para admirar o magnífico edifício. Em tom de
gracejo, ele disse enquanto entrava no castelo: “Agora, que terminei de juntar
as pedras, já posso descansar. Gostaria que me desculpassem a grosseria e me
dessem licença.”
Tibério fechou a
majestosa porta; e as pessoas, que não acreditavam no que os seus olhos viam,
entreolhavam-se perplexas e balbuciavam palavras desconexas...