domingo, 27 de setembro de 2015

MILTON E O POEMA DA PRINCESA


A biblioteca era o lugar favorito de Lidiane. Naquele castelo, ninguém ligava para os livros, e era exatamente ali que a inspiração costumava visitar o coração da princesa.

Ela estava distraída, escrevendo um poema, quando um jovem entrou e perguntou timidamente: "Atrapalho?...”. Milton se sentiu ainda mais embaraçado ao se certificar de que sua presença era indesejável... A princesa preferiu ignorá-lo... Ela nem mesmo se deu ao trabalho de levantar o olhar e responder à simples pergunta... Ela era bela e assemelhava-se a uma estrela inatingível.

Ele se sentiu o mais infeliz dos homens quando Lidiane parou de escrever e, após encará-lo com os olhos encharcados de indiferença, perguntou: “Por que está aqui?!... Se deseja ler, escolha um livro e leia!... Só não fique aí parado me observando, porque o seu olhar me incomoda.”.

Milton balbuciou: “Desculpe-me, Alteza... Eu não tive a intenção de...”. Ele não pôde completar a frase, porque Lidiane foi logo dizendo: “Cantores!... O meu pai estava certo: Teria sido melhor que tivessem nos enviado um músico!... Você deve ser o cantor que não deveria ter chegado!... Estou enganada?!...”.

Milton desculpou-se por estar ali e já se preparava para sair quando Lidiane, abrandando a voz, disse: “Perdoe-me... Eu não fui sempre assim... Eu me tornei o que sou tentando ganhar espaço para fazer o que mais gosto: escrever... Embora eu saiba que ninguém jamais lerá o que escrevo, eu tenho a necessidade de expressar os meus sentimentos em palavras.”.

Milton surpreendeu a princesa quando se atreveu a perguntar: “Posso ler o poema?...”. Revelando entusiasmo, ela respondeu: “Eu ficaria muito feliz se você o lesse!... Na verdade, esta não é a primeira vez que o escrevo... Ele é o meu poema favorito!...”.

Milton segurou a folha que Lidiane entregou a ele e leu o poema de amor, tentando esconder a emoção que sentia. Ela ficou muito feliz quando ele comentou: “É lindo!... Embora eu não saiba tocar nenhum instrumento, sou eu que componho o meu repertório. Eu tenho a certeza de que conseguiria unir o seu poema a uma melodia... Se Vossa Alteza consentisse, naturalmente.”.

À noite, depois do jantar, o rei se surpreendeu quando a princesa, em vez de se levantar e recolher-se como costumava fazer, acompanhou-o até o salão de música para assistir à apresentação do cantor recém-chegado. Ela ansiava ouvir o seu poema na voz daquele homem que conquistara o seu coração.

Na manhã seguinte, porém, quando os dois se encontraram na biblioteca, foi a decepção que levou Lidiane a afirmar magoada: “Você mentiu para mim!... As letras das músicas que você cantou não tinham nada a ver com o poema que escrevi!...”. Milton respondeu: “Eu não menti, Alteza!... O problema é que ando sem inspiração ultimamente...”.

Durante uma semana, todas as manhãs, a cena se repetia... Milton confessava não ter tido inspiração para vestir o poema com a melodia, e a princesa se entristecia. Mas houve uma noite em que ele cantou uma canção que tocou o coração de Lidiane de um modo único e inesperado...

Lidiane tentou fugir ao olhar insistente de Milton, mas não conseguiu... E, naquele momento em que ele sentiu que a princesa também o amava, ele encontrou inspiração para cantar a canção que ela tanto desejava ouvir.




sexta-feira, 25 de setembro de 2015

A CRIATURA TEMPESTUOSA E A MONTANHA DA REFLEXÃO





De repente, o céu escureceu, e o vento começou a soprar anunciando a tempestade que parecia iminente.

As pessoas correram para abrigarem-se do temporal. Que temporal?!... Do céu, não caiu uma gota de chuva!... Apesar disso, todos pressentiram que algo muito terrível estava para acontecer...

E eles não se enganaram!... As nuvens enegrecidas começaram a se juntar e formaram um ser gigantesco!... O céu voltou a clarear, mas ninguém se atrevia a abandonar seu esconderijo, porque a horrenda criatura parecia tão assustada e confusa quanto eles... O barulho ensurdecedor dos trovões tornava ainda mais ameaçadora a claridade dos relâmpagos, que se desprendiam de sua cabeça e de suas mãos!...

Embora a criatura, de aspecto sobrenatural, não tirasse os pés do chão, ela se agitava, como se estivesse enfurecida e esperasse apenas o momento de atacar...

Em seu rosto, havia três crateras, e uma delas se abriu para dizer: “A negatividade de todos vocês atingiu um nível se saturação insuportável!... Eu sou fruto dessa ausência de amor e de esperança... Se eu não tivesse absorvido todo esse lixo tóxico que vocês abrigaram em sua mente e em seu coração, esta cidade ficaria eternamente mergulhada nas sombras. Eu ainda estou aqui, porque vocês não conseguem me soltar... Enquanto vocês nutrirem um único sentimento de mágoa, ódio ou rancor, eu não poderei partir. Fechem os olhos e imaginem que estão cortando, com uma espada dourada, todos os fios que os ligam a mim. Vamos, apressem-se porque eu quero me ver livre dessa situação!...”.

As pessoas, ainda amedrontadas, obedeceram e só abriram os olhos quando o barulho dos trovões cessou. Admiradas, elas começaram a caminhar em direção à estranha montanha de pedra que substituíra a criatura e bloqueara a rua.

Na sua superfície, um quadro luminoso transmitia a mensagem: “O amor é fonte de luz. As pessoas que nos amam nos transmitem força, entusiasmo e alegria. Nós também adquirimos luminosidade quando amamos.”.

O homem que me contou essa história afirmou que ela é verdadeira. Ele disse que, na face oposta da montanha, existe o mesmo quadro com a mensagem. Quando ele visitou a cidade, ele pensou em permanecer ali... Mas, em seu coração, havia o desejo de fazer com que mais pessoas tomassem conhecimento da existência daquela cidade que possui a montanha da reflexão.






segunda-feira, 14 de setembro de 2015

O HOMEM, O GAROTO E O CARRINHO






Era uma vez um homem humilde que sobrevivia recolhendo objetos que as pessoas não desejavam mais. Ele era muito educado e atencioso, e sabia como cativar as pessoas; e elas sempre se lembravam dele no momento de se desfazerem de seus pertences.

Ele era feliz?!... Provavelmente não!... Mas, sem dúvida, era sábio... Ele costumava dizer que toda infelicidade nasce da insatisfação!... E, segundo ele, até um rei poderia se tornar infeliz se fosse ganancioso ou invejoso e começasse a comparar o tamanho e a riqueza de seu reino com outros reinos maiores e mais prósperos do que o dele.

Mas nem toda a sabedoria daquele homem conseguia aliviar o peso que ele carregava diariamente... Quando ele estava muito cansado e desanimado, ele costumava pensar: “Eu até pareço um animal puxando este carrinho pesado!... Mas, se ele estivesse vazio, eu também estaria reclamando, porque eu não teria o que vender!... E, se eu tivesse um cavalo e uma carroça, também estaria reclamando porque, além de sustentar a mim e a minha família, eu teria que comprar comida para o cavalo!... Não há solução!... Eu não tenho esperança de mudar de vida!... Como este carrinho pesa!... O mundo talvez pese menos do que ele!...”.

Em uma dessas ocasiões em que o pobre homem perdia a esperança e começava a falar sozinho pelas ruas, um garoto que o observava há algum tempo disse: “Se você me contratasse, eu poderia ajudá-lo!...”. O homem exclamou: “Garoto doido!... De onde um pobre diabo como eu tiraria dinheiro para contratar um empregado?!... Essa foi boa!... Pelo menos me fez rir!... Vá brincar, garoto!...”.

E o homem ficou prestando atenção no que o garoto disse: “Você não precisa pagar a minha ajuda com dinheiro... Mas você promete que, se eu o ajudar, você me emprestará o seu carrinho para eu vender os bichos de pano que o meu pai e a minha mãe fazem?!...”.

Para a alegria do garoto, o homem respondeu: “Eu posso fazer melhor do que isso!... Sou muito bom com a linha e a agulha!... Enquanto você sai para vender os bichos, eu posso ajudar os seus pais a confeccionar mais e mais e mais bichos!... Talvez a bicharada nos traga sorte e, em vez de recolher coisas velhas, eu possa ajudar você a vender os bichos!...”.

O homem e o garoto firmaram o acordo com um esperançoso aperto de mão. Os pais do garoto aceitaram a ajuda, e os quatro prosperaram muito mais do que poderiam imaginar... Eles se tornaram sócios na confecção e venda de bichinhos de pano. Com o tempo, montaram uma lojinha de brinquedos... E o carrinho, que o homem utilizara durante tanto tempo para transportar panelas e outros objetos velhos, perdeu a utilidade. Ele pensou: “Jogar esse carrinho fora, não posso porque ele é quase um parente... Mas posso dar a ele uma serventia melhor: Vou pintá-lo e enchê-lo de flores para enfeitar a entrada da nossa loja!...”.

Atualmente, a loja ainda existe, e o carrinho ainda está lá, alegrando os olhos de todos que o contemplam.  




O HOMEM FANTASIADO E O ESCONDERIJO DO GAROTO


Era uma vez um mundo sobre o qual a luz não brilhava. As pessoas eram tristes e se ressentiam por terem que viver na mais completa escuridão.

Certo dia, um homem se vestiu com uma roupa estranha... Pintou o rosto... Colocou uma peruca extravagante... E saiu rindo e cumprimentando a todos que encontrava em seu caminho.

Um desconhecido perguntou: “Ficou louco, homem?!... Volte para casa antes que o machuquem!... Ninguém aqui está para brincadeiras!...”. E o homem fantasiado respondeu: “Você não entende!... Não existe luz fora de nós, porque a nossa luz interior está apagada. Eu acendi a minha com uma dose de alegria!... Beba você também dessa bebida mágica!...”.

E o homem fantasiado teve que se esconder para não ser capturado pelas pessoas que pensavam que ele estivesse doente e desejavam levá-lo a um hospital.

A preocupação insana daquelas pessoas, em vez de deprimi-lo, trazia ao seu coração ainda mais alegria... Era mais do que isso: o coração dele estava iluminado!...

Um garoto aproximou-se devagarinho e agachou-se ao lado dele, atrás da árvore. O homem fantasiado surpreendeu-se quando ouviu o garoto dizer baixinho: “Eu conheço um lugar onde você poderá se esconder. Não faça barulho... Venha comigo.”.

Sem questionar, o homem fantasiado seguiu o garoto, e ele o conduziu até uma cachoeira. O garoto disse: “Atrás dessa cachoeira, existe uma passagem... Eu e os meus amigos costumamos vir aqui todos os dias... Você tem que prometer que não trairá o nosso segredo.”.

Curioso, o homem fantasiado perguntou: “O que existe lá de tão especial?...”. Os olhos do garoto brilharam quando ele respondeu: “Magia. A escuridão que envolve o nosso mundo não tem lugar nesse esconderijo onde a alegria ilumina a nossa imaginação. Venha...”.

O homem fantasiado exclamou: “Não!... Espere!... Não podemos ser egoístas!... Precisamos contar aos outros sobre esse lugar mágico que você e os seus amigos descobriram!...”. Pacientemente, o garoto disse: “Seria inútil porque eles não acreditariam. E, pior do que isso, seria eles invadirem o nosso lugar secreto, porque a luz que há nele não seria suficiente para iluminar a escuridão que eles carregam.  Confie em mim... Venha...”. 



sexta-feira, 11 de setembro de 2015

A PRINCESA JOSENIRA E O BEIJO DE AMOR


A mãe da princesa Josenira morreu no momento em que ela nasceu, e a garotinha cresceu ouvindo as criadas do castelo dizerem: “Josenira, querida, nunca se case, porque os homens são todos iguais: nenhum deles presta.”.

E a jovem princesa ficou terrivelmente preocupada quando o seu pai disse: “Eu não poderei governar eternamente... Eu preciso que você se case e me dê um herdeiro. Você tem exatamente um mês para decidir quem será o seu marido.”.

Josenira aventurou-se a perguntar: “O que acontecerá se eu me recusar a escolher alguém?...”. O rei respondeu: “Eu mesmo escolherei um marido para você: o mago Ataliba.”.

Josenira exclamou entre lágrimas: “Não!... Não e não!... Mil vezes não!... Ele me assusta!... Eu jamais me casaria com um mago!... Eu rezarei e pedirei para a minha Mãezinha me mostrar, durante o sono, o rosto do homem com o qual eu devo me casar.”.

E Josenira, naquela mesma noite, numa prece fervorosa, conversou com sua mãe e pediu a ela que lhe enviasse um sinal. Quando Josenira adormeceu, ela teve um sonho que ficaria gravado para sempre em seu coração. Ela estava sentada em um banco do jardim do castelo, e um jovem mascarado aproximou-se e disse: “Beije-me, Josenira.”. Inexplicavelmente, ele conseguia atraí-la de um modo irresistível... Ela se deixou envolver em seu abraço e o beijou como se aquele beijo fosse tudo o que ela mais desejasse na vida.

A princesa acordou atordoada. Após refazer-se da emoção, ela foi procurar o rei para dizer: “Pai, eu só me casarei com o homem que beijei esta noite no meu sonho.”.

Alarmado, o rei perguntou: “Você beijou um homem enquanto dormia?... Quem é ele?”. A princesa respondeu: “Eu não sei, mas eu hei de descobrir, nem que para isso eu tenha que beijar todos os homens do reino.”.

O rei exclamou: “Você enlouqueceu!... Se você beijar alguém que não seja o seu futuro esposo, eu terei que mandar matá-lo!...” A princesa sugeriu: “Em vez disso, poderá pedir ao mago Ataliba que os transforme em estátuas de pedra para enfeitarem o jardim. Naturalmente eu exagerei quando disse que beijaria todos os homens do reino... Eu mal suporto a ideia de ter que beijar um que não seja o homem que beijei no meu sonho!...  Dezessete!... Apenas dezessete!... Permita, pai, que eu beije dezessete pretendentes!... O meu príncipe há de ser um deles!...”.

Uma semana depois, Josenira quase voltou atrás em sua decisão quando viu os dezessete príncipes enfileirados, aguardando o seu beijo de amor. Ela beijou o primeiro, beijou o segundo e continuou beijando aqueles homens, cujo beijo nada tinha a ver com o beijo que ela retribuíra em seu sonho. Enquanto beijava o décimo sétimo pretendente, ela desmaiou em seus braços.

Josenira adoeceu gravemente, e os homens que ela beijara foram transformados em estátuas. Desesperado, o rei disse: “Filha, você não precisa se casar... O meu único desejo é que você se restabeleça.”.

A princesa murmurou: “Agora é tarde. Eu desejei morrer para fugir ao casamento, e agora a morte está aqui ao meu lado e me aconselha a limpar a minha consciência antes de partirmos: Ordene ao mago Ataliba que traga de volta à vida os homens que foram transformados em estátuas.”.

Pesaroso, o rei foi procurar o mago para ordenar-lhe que cumprisse o desejo da princesa. Sem demonstrar o menor embaraço, Ataliba respondeu: “Eu faria o que a princesa Josenira deseja, se eu pudesse. Apenas Reinaldo seria capaz de devolver a vida àqueles homens, mas eu receio que ele não esteja em seu juízo perfeito. Ele era um grande mago, mas teve um sonho que o levou à loucura. Eu tentei ajudá-lo, mas ele se recusa a falar sobre o sonho. Ele só sabe dizer que teve um sonho, e é por causa do sonho que ele começou a usar aquela máscara. Ele não está em condições de ajudar nem a si mesmo... Eu duvido que ele consiga reverter o feitiço.”.

O rei mal prestou atenção à história que o mago Ataliba contou sobre o mago Reinaldo. Ele ordenou: “Traga já esse homem.”

Quando Ataliba chegou ao castelo acompanhado de Reinaldo, o rei surpreendeu-se com a rapidez que ele desfez o encanto que havia tolhido os movimentos dos príncipes que ousaram beijar sua filha Josenira. Esperançoso, o rei implorou: “Cure a minha filha e você será generosamente recompensado.”. Reinaldo era um homem de poucas palavras e disse apenas: “Leve-me até ela.”.

Ao ver Josenira entregue àquele sono que parecia eterno, Reinaldo ordenou ao rei: “Deixe-nos a sós.”. O rei se afastou resignado, enquanto Reinaldo não conseguia tirar os olhos do rosto de Josenira. Ele murmurou: “É você!... Eu passei a usar esta máscara desde aquela noite em que nos beijamos em um sonho, porque eu desejava que você me reconhecesse. Acorde, minha princesa, e olhe para mim... Era o meu beijo que você buscava no dia em que beijou aqueles homens que foram transformados em estátuas. Eles estão vivos, e você também viverá para que possamos repetir aquele beijo quantas vezes você desejar.”.

Reinaldo sorriu no momento em que Josenira abriu os olhos e murmurou docemente: “Beije-me.” Os dois se entregaram a um longo e apaixonado beijo. Uma semana depois, eles se casaram e viveram felizes para sempre.



terça-feira, 8 de setembro de 2015

TUBA E A ILHA DAS MARAVILHAS


Cansado de ver o mundo com um olho só, o pirata Tubarão Escarlate dispensou a tripulação e seguiu sozinho até a ilha das maravilhas, para procurar a flor que a sereia dissera que teria o poder de curá-lo.

Os amigos o chamavam de Tuba, e assim também o chamava a sereia. Certo dia, ela disse: “Você dança com o perigo!... Já perdeu um olho em uma briga e ainda acabará perdendo a vida!... Antes que isso aconteça, Tuba, siga o meu conselho: Construa uma casa na  ilha das maravilhas. Lá, além de encontrar  a flor que tem o poder de curá-lo, você também encontrará a mulher dos seus sonhos.”.

Ao colocar os pés na ilha, Tuba gritou: “Mentirosa!... Mentirosa!... Mentirosa!... Não há nada aqui além de jacarés famintos e macacos atrevidos, que nunca viram alguém tão parecido com eles antes. Se estiver me ouvindo, apareça, sereia!... É como eu suspeitava!... Estou só nesta ilha dos embustes!...”.

A revolta, porém, logo cedeu lugar à admiração, porque Tuba descobriu que bastava pedir, e o que ele desejava aparecia. Ele pensou na casa, e lá estava ela!... Pensou em comida, e uma mesa surgiu com tudo o que ele imaginara.

Em seguida, ele desejou que a flor que tinha o poder de curá-lo aparecesse... Mas quem apareceu, ao seu lado, foi a sereia. Ele perguntou surpreso: “O que aconteceu com você?!... O que houve com a sua cauda?!... Você agora parece uma mulher de verdade e está ainda mais bela!... Responda-me: Onde está a flor para que eu possa ver você com os meus dois olhos?!...”.

A sereia respondeu: “Eu sou a flor que só o seu amor poderá colher... E sou também a flor que poderá curá-lo. O meu nome é Anêmona. Aproxime-se e feche os olhos.”.

Tuba obedeceu, e a sereia, após retirar o tapa-olho vermelho que ele usava sobre o olho esquerdo, beijou suas pálpebras. Quando ele abriu os olhos, um mundo maravilhoso se descortinou ao seu redor!... Aquela era, sem dúvida, a ilha das maravilhas!... As cachoeiras, a vegetação exuberante e os seres mágicos tornaram-se visíveis aos olhos de Tuba. E o amor que ele sentia por Anêmona também floresceu em seu coração. Ele a beijou, e nunca mais foi visto pelos humanos.






segunda-feira, 7 de setembro de 2015

O URSO CHARMOSO E A URSA FEITICEIRA


Era uma vez um urso muito charmoso, que estava sempre arrumando confusão porque vivia trocando de namorada. Embora ele desejasse se apaixonar eternamente, isso nunca acontecia, e ele continuava buscando o amor em um novo relacionamento.

Os ursos o odiavam, e as ursas, por mais que tentassem resistir aos seus encantos, acabavam se apaixonando, e o final era sempre o mesmo: mais um coração para ser atirado à montanha de corações partidos.

Eu já ouvi dizer que o amor pode se transformar em ódio. Talvez isso seja mesmo verdade, porque uma das ursas que ele namorou foi procurar a ursa que realizava feitiços para dizer: “Aqui está a gaiola que você me pediu que trouxesse. Eu já refleti bastante, e é isso mesmo o que eu quero: vê-lo reduzido até caber nesta prisão. Só assim ele será meu e não conseguirá fugir.”.

Entretanto, o inesperado aconteceu: A ursa feiticeira também se apaixonou por ele quando o capturou; mas, em vez de se sentir atraída, aquele sentimento novo transformou-se em uma barreira entre os dois. Para mantê-lo afastado, ela disse: “Eu nunca me apaixonei, e não será esta a primeira vez porque, no meu caso, não poderá haver uma segunda, ou uma terceira... Eu só me apaixonarei por um urso que ame o amor que eu sentir por ele... A situação é a seguinte: Apesar de não querer ser sua namorada, não vejo sentido em transformá-lo em um pássaro para aprisioná-lo nessa gaiola. O seu único crime é buscar o amor que você sonha existir... O seu coração está ainda mais despedaçado do que os corações que você partiu. Vá e continue se autodestruindo nessa busca insana.”.

O urso partiu. Mas a ursa feiticeira enganou-se quando disse que o coração dele estava despedaçado. Pela primeira vez na vida, ele sentiu a inteireza de seu coração; porque, pela primeira vez na vida, o coração dele estava batendo por uma ursa só.

Ele conseguiu permanecer meses sozinho!... Todos pensaram que ele estivesse doente, e começaram a se preocupar. Mas o urso não estava doente e sim apaixonado pela ursa feiticeira. Ela, por sua vez, também estava apaixonada por ele e começou a perder a concentração, e frequentemente se atrapalhava na realização dos feitiços e no preparo das poções. Um cliente, que foi procurá-la para reclamar da ineficácia de uma poção, comentou sobre a mudança de comportamento do urso.

Uma semana depois, não conseguindo mais suportar a saudade, a ursa feiticeira resolveu sair para investigar se o que ela ouvira era verdade. E, coincidência ou não, no caminho, ela encontrou o urso sentado sozinho à sombra de uma árvore.

Os dois ficaram felizes ao se reencontrarem... Conversaram e juraram amor eterno. Eu ouvi dizer que eles estão juntos até hoje. Ele continua charmoso, mas os seus encantos agora pertencem apenas à ursa feiticeira.