Ademar, o filho adotivo
do coveiro, gostava de escrever histórias, sentado no chão do cemitério que
havia atrás da igreja.
Os garotos, além de
gostarem das histórias que Ademar contava, ainda admiravam a sua coragem. Eles
diziam que as histórias de Ademar eram tão boas que causavam pesadelos!... A
história que eles mais gostavam era esta: “Era uma vez um menino que havia
morrido. Ele foi enterrado, e os seus parentes se despediram dele no cemitério.
Mas ele se recusou a fazer a travessia para o mundo dos mortos e continuou a se
comportar como se ainda estivesse vivo. Como as pessoas que ele conhecia não
conseguiam mais vê-lo, ele se afastou e ficou surpreso quando, certo dia, um
garoto começou a conversar com ele. Eles logo ficaram amigos, e o garoto o
convidou a acompanhá-lo até a escola. Lá ele fez novas amizades e contou uma
história bem estranha. Disse que havia perdido a memória e não sabia quem era
e, muito menos, onde morava. Um dos garotos, compadecido de sua sorte, ofereceu-lhe
moradia. Ele começou a frequentar a escola, e o seu passatempo favorito era
contar histórias que faziam os colegas tremerem de medo. O que os garotos não
sabiam era que ele coletava as histórias nas suas visitas ao cemitério porque,
como ele havia morrido, ele conseguia se comunicar com os mortos.”
O tempo passava, a
popularidade de Ademar aumentava, mas ele não crescia. Embora os amigos
desconfiassem que era ele o protagonista da história que eles tanto gostavam,
eles não comentavam nada e não se afastaram, porque o prazer que eles sentiam ao ouvir as
histórias de Ademar era maior do que o medo que eles experimentavam ao imaginar
que fosse ele o menino que havia morrido.
Rui Petrarca dos Anjos
(Personagem de Sisi Marques)
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