sexta-feira, 3 de abril de 2015

ADEMAR E A HISTÓRIA DO MENINO QUE HAVIA MORRIDO

Ademar, o filho adotivo do coveiro, gostava de escrever histórias, sentado no chão do cemitério que havia atrás da igreja.

Os garotos, além de gostarem das histórias que Ademar contava, ainda admiravam a sua coragem. Eles diziam que as histórias de Ademar eram tão boas que causavam pesadelos!... A história que eles mais gostavam era esta: “Era uma vez um menino que havia morrido. Ele foi enterrado, e os seus parentes se despediram dele no cemitério. Mas ele se recusou a fazer a travessia para o mundo dos mortos e continuou a se comportar como se ainda estivesse vivo. Como as pessoas que ele conhecia não conseguiam mais vê-lo, ele se afastou e ficou surpreso quando, certo dia, um garoto começou a conversar com ele. Eles logo ficaram amigos, e o garoto o convidou a acompanhá-lo até a escola. Lá ele fez novas amizades e contou uma história bem estranha. Disse que havia perdido a memória e não sabia quem era e, muito menos, onde morava. Um dos garotos, compadecido de sua sorte, ofereceu-lhe moradia. Ele começou a frequentar a escola, e o seu passatempo favorito era contar histórias que faziam os colegas tremerem de medo. O que os garotos não sabiam era que ele coletava as histórias nas suas visitas ao cemitério porque, como ele havia morrido, ele conseguia se comunicar com os mortos.”

O tempo passava, a popularidade de Ademar aumentava, mas ele não crescia. Embora os amigos desconfiassem que era ele o protagonista da história que eles tanto gostavam, eles não comentavam nada e não se afastaram, porque  o prazer que eles sentiam ao ouvir as histórias de Ademar era maior do que o medo que eles experimentavam ao imaginar que fosse ele o menino que havia morrido.


Rui Petrarca dos Anjos
(Personagem de Sisi Marques)


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