quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

O PORTAL NO FUNDO DO SACO

O PORTAL NO FUNDO DO SACO
A noite estava fria, e o seu coração estava amargurado por ele ter conseguido ganhar tão pouco, vestido naquela fantasia ridícula de Papai Noel. Sentado na calçada, recostado na parede de um edifício abandonado, Cristóvão esvaziava a garrafa que trouxera escondida dentro de um saco de papel. Envergonhado de sua pobreza e de sua falta de habilidade para conseguir mudar a situação, ele colocou o saco na cabeça para esconder o rosto. Depois, cansado da brincadeira que não tinha a menor graça, ele retirou o saco da cabeça e surpreendeu-se ao ver, estendido na calçada, um saco vermelho enorme. Bêbado como estava, ele pensou: “Dentro desse saco, eu poderia me esconder do mundo para sempre.” Cambaleando, ele se levantou e, tropeçando aqui e ali, ele conseguiu entrar no saco. O que Cristóvão não poderia imaginar era que, no fundo do saco, havia um portal que conduzia à Terra Encantada do Natal. Ele foi bem recebido pelos duendes fabricantes de brinquedos, e o Papai Noel, ao dar-lhe as boas vindas, disse-lhe que precisava se aposentar e gostaria que ele o substituísse. Cristóvão aceitou o convite alegremente, e voltou à sua dimensão apenas para buscar sua família. Desde aquele encontro com o Papai Noel, ele nunca mais bebeu e tornou-se um Papai Noel exemplar.

Sisi Marques

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

A RAINHA IMAGEM E O REI TEXTO



A RAINHA IMAGEM E O REI TEXTO

A rainha Imagem era muito bela,
E o seu reino majestoso ficava próximo
De outro reino, governado por um rei
Que ela constantemente desprezava.

A rainha Imagem vivia dizendo:
“Eu me expresso muito melhor do que você.
Meus súditos não têm dificuldade de
Compreender minhas mensagens.
Eles olham para mim, e tudo se esclarece.”

O rei Texto, por sua vez,
Guardando a esperança de que a rainha
Aceitasse o seu pedido de casamento, respondia:
“A sua presença, embora seja bela, nem tudo revela.
Eu tudo registro: a fala, as emoções e o pensamento.
Não vivo só de aparências, embora a aparência,
Na minha face, também esteja impressa.”

E a rainha o ridicularizava:
“Muitos o acham enfadonho...
Eu tenho o dom de me comunicar
Instantaneamente; enquanto você
Rouba o tempo e a paciência
De quem se dispõe a
Compreendê-lo.”

Para convencer a rainha a aceitá-lo,
O rei Texto não economizava palavras:
“Imagem, você é bela, mas pouco revela.
O seu discurso repousa na superfície
E, as mentes, empobrece, porque
Os seus súditos desconhecem
O poder da imaginação.”

E a rainha Imagem exclamava:
“Como ousa dizer que, a imaginação,
Não fortaleço, quando constantemente ofereço
A possibilidade de múltiplas interpretações?!”

E o rei Texto, na esperança de apaziguar
A indignação da Rainha Imagem, dizia:
“Não a estou criticando, porque, em tudo,
Você é perfeita; mas a sua presteza
Não favorece a criatividade
E dispensa o devaneio.”

As discussões eram longas
E pareciam sempre intermináveis
Até o dia em que o rei sabiamente,
Com voz carinhosa e serena, disse:
“Se, um quadro desta nossa discussão,
Nossos súditos vissem, conseguiriam imaginar
Sobre que assunto tanto argumentamos?
Eles apenas nos veriam conversando,
E caberia à imaginação deles
Adivinhar sobre o quê.”

Após uma breve pausa, percebendo que estava
Prendendo a atenção da formosa rainha,
O sóbrio rei Texto aventurou-se a dizer:
“Agora imagine que belo casal formaríamos:
Você, ostentando sua beleza; e eu,
Adicionando clareza a tudo o que
Você desejasse transmitir.”

A rainha Imagem sorriu,
E o seu sorriso convidava
O rei Texto a beijá-la.
Imensamente felizes,
Eles compreenderam
Que se completavam,
E as discussões tolas
Felizmente cessaram.

Sisi Marques




IMAGEM VERSUS TEXTO

Eu, Caetano Augusto Petrarca dos Anjos, gostaria de mostrar a você uma parte do diálogo entre a Rainha Imagem e o Rei Texto, que a Sisi omitiu para que o poema não ficasse excessivamente longo.

A Rainha Imagem disse: “Segundo o provérbio chinês, ‘Uma imagem vale mais do que mil palavras’.” O Rei Texto respondeu: “Não discordo do provérbio. Contudo, apenas oito palavras foram suficientes para expressar essa verdade. Poderia um quadro transmiti-la com tanta clareza?!...”

Você sabe que, apesar das divergências, a Rainha Imagem e o Rei Texto acabaram se casando. Certo dia, apenas para quebrar a monotonia, eles ordenaram que os súditos participassem de uma votação. Eles teriam que decidir qual dos regentes se comunicava com maior rapidez, exatidão e clareza. Para que o voto fosse considerado legítimo, o eleitor teria que explicitar as razões que motivaram a escolha.

Em quem você teria votado, se morasse naquele reino e tivesse que ter participado da votação? Por favor, não se esqueça de argumentar a favor de seu candidato.


Sisi Marques


domingo, 23 de fevereiro de 2014

O GUARDIÃO DO BOSQUE DAS ÁRVORES FALANTES

O GUARDIÃO DO BOSQUE DAS ÁRVORES FALANTES
Eu, Caetano Augusto Petrarca dos Anjos, hoje resolvi contar uma história que ouvi quando eu era criança, e que me fez ter pesadelos. Severo era um homem de bom coração e rígido em seus princípios. Numa manhã de domingo, no momento em que ele saía da igreja, foi abordado por dois policiais que o prenderam e o conduziram à delegacia. Quem o acusou de ter roubado uma casa na noite anterior foi Euclides, seu melhor amigo. Um dos guardas sugeriu: “Poderíamos levá-lo ao bosque; talvez as árvores confirmem a sua inocência.” Outro policial ponderou: “Aquelas árvores são amaldiçoadas; nunca inocentaram ninguém. E o pobre homem parece estar dizendo a verdade.” Severo, que ouvia atentamente o que os guardas diziam, pediu-lhes que o conduzissem ao bosque. Seu pedido foi atendido. Quando a viatura parou na entrada do bosque, um dos policiais disse: “Pode entrar, mas saia rapidamente quando as árvores começarem a acusá-lo, porque, do contrário, você enlouquecerá do mesmo modo que os outros criminosos.” O inesperado aconteceu: as árvores, em vez de lançarem gritos de acusação, começaram a entoar uma melodia suave e prazerosa. Os guardas, cansados de esperar por Severo, deram de ombros e foram embora. No trajeto, o motorista da viatura comentou: “Talvez o ladrão seja o sujeito que tentou incriminá-lo.” Naquele dia, Severo encontrou seu destino: ele se comoveu com a pureza que havia nas árvores, e passou a amá-las e protegê-las. Ele se mudou para o bosque, e todos começaram a chamá-lo de guardião do bosque das árvores falantes.
Sisi Marques


quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

ADQUIRA O HÁBITO DE ESCREVER POEMAS

ADQUIRA O HÁBITO DE ESCREVER POEMAS

Nada do que eu digo tem a ver com você?
Os versos que escrevo traduzem apenas
As minhas próprias inquietações?

Eu vasculho a minha alma
Em busca de sentido.
E, você, o que está buscando
Quando se volta para
O seu interior?

Você ama a fantasia tanto quanto eu,
Ou esta realidade o fascina ainda mais?
Será que todos têm sede de magia,
Ou o milagre desta vida já os satisfaz?

Eu pareço egoísta quando utilizo os poemas
Para expressar o que sinto; mas, por trás
De cada poema, existe o desejo de saber
Se ele se aplicaria a mais alguém.

Somos iguais ou diferentes?...
Se este poema fosse seu,
O que você escreveria?

Para essas perguntas,
Eu jamais terei as respostas,
Porque, enquanto eu me exponho,
Você se esconde e se cala.

Os meus versos já tocaram
As fibras de seu coração?
Qual foi o poema que você
Mais gostou, ou será que
Odiou todos eles?!...

Mais perguntas, sem respostas!
Os poemas nos ajudam a expurgar
O coração das tristezas, e enfeitá-lo
Com a alegria e a beleza da poesia.

Adquira o hábito de escrever poemas.
Você verá como é fácil: é só prestar
Atenção ao seu coração, e ele
Começará a falar sem parar.

Ouça sempre o seu coração.
Peça para a sua mente
Fazer silêncio enquanto
Ele se expressa.

Jamais o censure,
Jamais o condene,
Porque o coração
Nunca mente.

E, neste momento,
É o seu coração
Quem está lendo
Este singelo poema
Que o meu coração
Acabou de escrever.

Sisi Marques



quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

A BELA FEITICEIRA EM SEU CASTELO DE SONHOS

A BELA FEITICEIRA EM SEU CASTELO DE SONHOS 
Uma bela feiticeira, nas nuvens, morava
E se debruçava na janela que havia
Na torre mais alta de seu castelo de sonhos.
 
E ela passava o dia todo sonhando...
Sonhava acordada com o mortal
Que ela amava, e por quem deixaria
Seu castelo de sonhos construído nas nuvens.
 
E ela passava a noite toda sonhando...
E, em seu sonho, visitava o mortal
Que ela amava, e por quem deixaria
Seu castelo de sonhos construído nas nuvens.
 
E o mortal que ela amava não suspeitava
Que a bela jovem com quem ele sonhava,
E por quem ele perdidamente se apaixonara,
Era uma feiticeira que, nas nuvens, morava
E que se debruçava na janela da torre mais alta
De seu castelo de sonhos somente para vê-lo.
 

Sisi Marques

O GNOMO QUE NÃO SABIA OUVIR

O GNOMO QUE NÃO SABIA OUVIR

Certa vez, um gnomo, que falava demais,
Caminhava ao lado de outro gnomo,
Que não dizia uma palavra, porque
Estava interessado em observar a paisagem.

Cansado de tanto falar e não ser ouvido,
O gnomo falante gritou: “Você é surdo?...
Não entende o que eu digo?...”

O gnomo taciturno perguntou:
“Você quer saber o que eu penso?”
O gnomo falante respondeu:
“Não. Eu só queria ter certeza
De que você não era surdo,
Para eu continuar falando.”

O gnomo taciturno comentou:
“Eu não sou surdo, mas você é.
Quem só quer escutar a própria voz,
Não consegue ouvir ninguém.”


Sisi Marques

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

DOCE VENTURA DE TECER SONHOS

Bruxonilda (Personagem criada por Amanda Layouts para o Blog “Doce Ventura de Tecer Sonhos”).

A história “Doce Ventura de Tecer Sonhos” foi inspirada no desenho dessa bruxinha encantadora. Eu me apaixonei pela Bruxonilda desde o primeiro instante em que a vi.

Obrigada, Amanda Fonseca, por participar dessa doce ventura de tecer sonhos.

Sisi Marques




DOCE VENTURA DE TECER SONHOS

Na dimensão sombria, onde os sonhos nunca se realizam, existiu uma bruxinha que desejava que os seus sonhos pudessem se realizar. Ela passava o dia todo sonhando acordada... Imaginava-se passeando em um recanto mágico, onde a magia das outras bruxas não pudesse alcançá-la.

Certo dia, Bruxonilda fechou os olhos e desejou de todo o coração que aquele lugar mágico existisse. Decepcionou-se, porém, quando, ao abri-los, descobriu que ainda estava naquela mesma dimensão feia e sombria.

Bruxonilda era imortal; a passagem dos anos não a assustava. Ela escolheu permanecer com dezessete anos e, até hoje, essa é a idade que ela aparenta. Mas, voltando àquele momento em que Bruxonilda desejou ardentemente que houvesse um recanto onde ela pudesse tecer os seus sonhos de felicidade; ela suspirou tristemente, e continuou acalentando esse sonho por mais de vinte anos.

            Você deve estar se perguntando se Bruxonilda encontrou aquele recanto mágico... Felizmente, sim. Em um de seus passeios pela floresta, Bruxonilda avistou uma árvore que brilhava como se fosse uma estrela. Encantada com a formosura da árvore, Bruxonilda se aproximou, e descobriu que a árvore estava lhe revelando o portal que havia em seu tronco.

            Bruxonilda sorriu e ficou felicíssima ao pensar que, talvez, aquela fosse a passagem para a dimensão de luz, onde os sonhos se realizam!... Ela não hesitou. Com o coração transbordando de esperança, ela atravessou o portal e caminhou por uma estrada florida, em cujo término havia uma placa enorme que dizia: “Seja bem-vinda ao mundo mágico de ‘Doce Ventura de Tecer Sonhos’. Aqui todos os sonhos se realizam.”

 Sisi Marques
18/02/2014


segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

OS DOZE IRMÃOS QUE NADA FAZIAM

OS DOZE IRMÃOS QUE NADA FAZIAM

Os doze irmãos nada faziam;
E todo ano prometiam
Que resolveriam tudo
Em seu mês favorito.

Januário esperava por janeiro.
Felício esperava por fevereiro.
Marcílio esperava por março.
Abreu esperava por abril.

Mário esperava por maio.
Juninho esperava por junho.
Júlio esperava por julho.
Augusto esperava por agosto.

Sérgio esperava por setembro.
Otávio esperava por outubro.
Norberto esperava por novembro.
Décio esperava por dezembro.

Talvez não tenham sido esses
Os nomes dos dozes irmãos.
A história é muito antiga,
E, depois de tanto tempo,
Quem poderá dizer ao certo
Como eles se chamavam?

Você mesmo, quando contar esta história,
Não conseguirá se lembrar dos nomes que eu disse,
E inventará outros que combinem com os meses.
De qualquer modo, a história continuará verdadeira porque
Eles eram doze e nada faziam; e todo ano prometiam
Que resolveriam tudo em seu mês favorito.


Sisi Marques

COLETORES DE EMOÇÕES NEGATIVAS

COLETORES DE EMOÇÕES NEGATIVAS

Naquela vila, onde brigas sempre ocorriam,
Dois irmãos recém-chegados começaram
A chamar a atenção dos moradores.

Eles estavam sempre, pelas ruas, caminhando.
E um deles, fizesse o tempo que fizesse,
Estava sempre usando capa impermeável branca,
Galochas brancas e um guarda-chuva branco.

O outro irmão se vestia como os moradores da vila.
O que o diferenciava era apenas a cesta de flores,
Que ele carregava prazenteiramente.
Embora o homem distribuísse
As flores generosamente,
A cesta estava sempre repleta.

Com o tempo, as caminhadas constantes dos dois irmãos
Passaram a fazer parte da rotina da vila,
E ninguém mais se surpreendia
Com as flores que um deles
Sempre distribuía.

As brigas entre os moradores cessaram,
Porque o guarda-chuva branco,
As emoções negativas, atraía
E as transformava em flores,
Que iam parar direto na cesta.

Sisi Marques

domingo, 16 de fevereiro de 2014

O PESADO SACO VAZIO


O PESADO SACO VAZIO

Todos o chamavam de louco,
Porque ele sempre carregava
Um saco vazio nas costas.

Embora o saco estivesse vazio,
O pobre homem se curvava
E andava lentamente,
Fazendo um esforço enorme
Para conseguir transportá-lo.


Certo dia, um garoto,
Que gostava de se divertir
À custa dos outros,
Ofereceu-se para ajudá-lo.

O homem respondeu:
“Agradeço sua oferta,
Mas, o que há aqui dentro,
Ninguém, além de mim,
Conseguiria carregar.”

E o rapazinho, retirando
Sua máscara de bonzinho,
Revelou e ostentou o escárnio
Que havia em seu coração.

Resignado, o homem
Continuou caminhando,
Mas o garoto o seguia,
Rindo e debochando.

De repente, o homem parou.
Contemplou o rosto do menino
E, sorrindo, retirou o saco das costas
E, segurando-o com as duas mãos,
Entregou-o ao jovenzinho,
Que estendera a mão
Para apanhá-lo.

O garoto assustou-se
E tombou com o peso do saco.
E teria se machucado
Se o homem não estivesse
Ajudando-o a segurá-lo.

O menino envergonhado
Perguntou intrigado:
“Se o saco está vazio,
Por que é tão pesado?”

E o homem respondeu:
“Se amor, dentro dele, houvesse;
Ele se tornaria leve e fácil de carregar.
Como apenas desamor há dentro dele,
Ele se torna um fardo que ninguém,
Por mais forte que seja,
Consegue suportar.”

Sisi Marques


sábado, 15 de fevereiro de 2014

A BRUXA SOMBRILDA E O SOL DO OTIMISMO

A BRUXA SOMBRILDA E O SOL DO OTIMISMO


E a bruxa Sombrilda voava, voava,
Incansavelmente, em sua vassoura,
Usando seu aspirador de sombras
De pensamentos pessimistas.

Onde o pessimismo se instala,
Ele deixa sombras enormes,
E Sombrilda as estava coletando
Para, depois, vaporizá-las no planeta
Que era aquecido pelo sol do otimismo.

Sombrilda tinha um sonho: ela desejava
Transformar o planeta do otimismo
No planeta das sombras do pessimismo.

Sombrilda sonhava com um planeta só seu,
Habitado por pessoas cansadas e desanimadas,
Que passariam a servi-la incondicionalmente.

Ela não perdeu tempo e começou a
Vaporizar as sombras com a mesma
Máquina que utilizara para coletá-las.

Em pouco tempo, as sombras cobriram o planeta,
E o dia escureceu, tornando-se uma noite sem estrelas.
Os habitantes procuravam, no céu, o sol do otimismo,
Mas só havia as sombras de pensamentos pessimistas.

Sombrilda, contemplando o manto negro
Que cobria o planeta, sorriu maldosamente,
E mergulhou nas sombras com sua vassoura,
Acreditando que o planeta já lhe pertencia.

Mas Sombrilda enganou-se terrivelmente,
Porque, embora as sombras do pessimismo
Tivessem conseguido encobrir temporariamente
A luz do sol do otimismo, elas não conseguiram
Abater o ânimo das pessoas, que continuavam
Radiantes e felizes, esperando que a luz
Voltasse a brilhar a qualquer momento.

E foi exatamente o que aconteceu.
Quando o sol do otimismo conseguiu romper
O véu de sombras que cobria o planeta,
Os olhos de Sombrilda, que contemplavam a escuridão,
Foram atingidos pela luz e brilharam como estrelas.

Ela fechou os olhos, e piscou várias vezes,
Acreditando que poderia se desvencilhar da luz.
Mas a luz já fazia parte do seu novo modo
De ver a vida, e ela nunca mais foi a mesma.
O brilho em seus olhos aqueceu o seu coração,
E ela acabou preferindo a luz à escuridão.

Sisi Marques


sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

O BRUXO E A BRUXINHA QUE FINGIAM SER MAUS

O BRUXO E A BRUXINHA QUE FINGIAM SER MAUS


Era uma vez um bruxo mau,
Muito mau que, para sobreviver
Em meio a outros bruxos, dizia:
“Se vocês são maus, eu posso
Ser ainda pior do que vocês.”


Mas, interiormente, o bruxo chorava e sorria.
Chorava porque a sua atitude o desagradava,
E sorria porque a sua atitude convencia
Os outros bruxos de que ele era
Verdadeiramente mau.


Na floresta dos bruxos, também havia uma bruxinha
Que não era má, mas que precisava parecer má,
Para sobreviver em meio a tantas outras bruxas.
E ela, bela como era, precisava maquiar-se para
Parecer feia e dizia, abaixando as sobrancelhas:
“Se vocês são más, eu posso ser ainda pior
Do que vocês todas juntas, mil vezes pior.”


E até mesmo o bruxo que fingia ser mau
Acreditava que a bruxinha fosse má de verdade.
Mas, para a felicidade dos dois, certo dia,
Os seus olhos se encontraram, e eles se apaixonaram.


Continuar vivendo na floresta dos bruxos,
Eles não mais desejavam, e os dois fugiram
Para um lugar encantado, onde não mais precisavam
Esconder a bondade que havia em seus corações amorosos.


Sisi Marques

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

O GAROTO BRIGUENTO E OS EXTRATERRESTRES

O GAROTO BRIGUENTO E OS EXTRATERRESTRES

Era uma vez um menino briguento.
Ele batia e apanhava, e vivia dizendo:
“Eu chuto, eu bato, eu arrebento...”
O que o pobrezinho não sabia
Era que começara a fazer parte
De um terrível experimento.


Ele era valente e bastante espalhafatoso,
E suas brigas na rua chamaram a atenção
De dois habitantes de outro planeta,
Recém-chegados à Terra.

Um extraterrestre, ao outro, dizia:
“Veja só como os terráqueos são primitivos.
Inteligência, eles não têm para resolver os conflitos.
Se os humanos fossem inteligentes,
Esse garoto, assim, não agiria.”

O outro, pensativo, nada dizia,
Apenas escutava o que o companheiro,
Intrigado, acrescentava às suas considerações:
“Esse garoto é o espécime perfeito
Para nossas experiências e observações.”

E o menino briguento foi capturado.
Para evitar que ele fizesse estardalhaço,
Os extraterrestres, uma pistola
De raio paralisante, utilizaram.

E, das brigas de rua, o garoto briguento,
Que dizia: “Eu chuto, eu bato, eu arrebento...”,
Desde aquele dia, nunca mais participou.

Sisi Marques


segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

O LENHADOR E O ELFO

O LENHADOR E O ELFO

Uma mão forte segurou o braço do lenhador
Quando ele levantou o machado para desferir
O golpe no tronco de uma árvore gigantesca.

O lenhador virou-se para verificar
Quem interrompera seu trabalho,
E os seus olhos ficaram colados
No olhar penetrante de um elfo.

O lenhador moveu os lábios,
Mas não conseguiu articular
As palavras que expressariam
O seu desagrado diante da
Atitude inesperada e inoportuna
Daquele rapaz desconhecido.

O lenhador não suspeitava
Que o jovem fosse um elfo
Empenhado em proteger
A árvore que lhe assegurava
A sobrevivência e a imortalidade.

O elfo, após soltar o braço do lenhador,
Aproximou-se de sua árvore e disse:
“Esta árvore é a minha árvore,
E ela é mágica e especial
Como todas as outras árvores.”

Enquanto o elfo falava,
Mais elfos apareciam.
Era como se houvesse
Um elfo para cada árvore
Daquele trecho do bosque.

O elfo sorriu, e o seu sorriso
Enterneceu o coração do lenhador.
E, a partir daquele dia,
Em vez de derrubar as árvores,
Ele passou a protegê-las.

Sisi Marques



DESENHOS DE KETLYN MAYLA

 OS SETE DESENHOS DE KETLYN MAYLA

(Blog Respirar Histórias)







AS MÁSCARAS DE GERÂNIO

    
DESENHO DE KETLYN MAYLA

AS MÁSCARAS DE GERÂNIO

Gerânio era um homem bem dissimulado.
Quem o conhecia, em sua palavra, não acreditava.
Mas quem ainda não havia provado do veneno
De seus disfarces; de sua falsidade, não escapava.

Gerânio nascera para ser ator,
Mas o seu palco era a vida.
Ele tanto mentia que depois
Não se lembrava mais
Do que dissera.

Mas isso não o embaraçava,
Porque ele tornava a mentir.
Mas, certo dia, Gerânio
Mentiu para uma bruxa,
E ela o enfeitiçou.

Toda vez que ele mentia,
A expressão que ele fazia,
Em máscara se transformava,
E, no chão, ela caía.

Todo sem graça por ter sido
Apanhado em sua mentira,
A máscara, ele recolhia
E, de fininho, ele saía.

Mas Gerânio não tinha jeito
E, da situação, tirou proveito:
As máscaras para o carnaval,
Ele começou a vender.

Esta história parece mentira,
Mas a lojinha de Gerânio
Floresceu da noite para o dia.
Se você não acredita,
Eu posso levá-lo até lá.


Sisi Marques

AS CRIANÇAS E A BRUXA ROSNILDA


DESENHO DE KETLYN MAYLA

AS CRIANÇAS E A BRUXA ROSNILDA

No coração da floresta encantada,
Existia uma bruxa sempre atarefada,
Que vivia a dizer: “Odeio crianças!”

E a bruxa ranzinza, enquanto dava voltas
Em torno de sua vassoura, resmungava:
“Odeio crianças! Elas parecem milho de pipoca:
Logo se aquecem e começam a pular!”

E as crianças, que interrompiam
Os afazeres da bruxa Rosnilda,
Gesticulavam, gritavam e riam
Quando ela começava a se descabelar.

E, para irritá-la, cantavam:
“Odiamos a bruxa Rosnilda,
Que de tudo sempre reclama.
Odiamos a bruxa Rosnilda,
Porque ela não nos deixa brincar.
Somos crianças felizes e,
A vida dela, poderíamos alegrar.”

Enxotando-as com sua vassoura,
Rosnilda enrubescia e dizia:
“Xô, xô, crianças! Afastem-se de mim,
Porque de alegria eu não preciso.
Se não se forem, farei um feitiço
Que as transformará em anões de jardim.”

Sisi Marques



A ALEGRIA DE SUA CRIANÇA INTERIOR É CONTAGIANTE

A todo o momento trocamos de máscara nas interações sociais. Essas máscaras, porém, não se aderem à vivacidade da criança. A criança é autêntica e se expressa com alegria. Dentro dela, existe uma energia que se assemelha à lava de um vulcão. E essa lava, em vez de destruir o caminho por onde passa, queima a tristeza e a desesperança.

A criança é feliz porque ela escolhe ser feliz hoje. Ela não condiciona sua felicidade ao acúmulo de conquistas. Ela não se prende nem ao passado, nem ao futuro. Na sua inocência, o único tempo que existe é o agora.

Se pudéssemos abandonar nossas máscaras e parássemos de adiar a felicidade, deixaríamos de ser ranzinzas como a bruxa Rosnilda e nos tornaríamos alegres, porque redescobriríamos em nós a criança interior.

Você, que está me ouvindo neste exato momento, é uma criança ou um adulto?... Se for uma criança, você não precisa de conselhos. Mas, se você for um adulto, reflita por um momento... Procure identificar as máscaras que você usa diariamente... E verifique com que frequência você diz “Eu serei feliz quando...”, ou “Eu só serei feliz se...”. Jogue fora todas as condições que você estabeleceu para si mesmo, e comece a pular de alegria, como as crianças ao redor da bruxa Rosnilda.

Sisi Marques
  

A CORUJINHA QUE NÃO SABIA LER



A CORUJINHA QUE NÃO SABIA LER



Desenho de Ketlyn Mayla

Era uma vez uma coruja... Ei, espere um momento... Corujas são inteligentes, não são? Sim, mas essa coruja não parecia muito esperta; pelos menos, não no início.

Juju era uma encantadora corujinha que não sabia ler. Isso era um problema, porque havia cartazes por todos os lados na floresta, e os animaizinhos consultavam Juju, para saber o que diziam aqueles cartazes, e ela mentia. Sim, ela mentia descaradamente. Bem, talvez não mentisse; apenas inventasse para não decepcionar os amigos. Afinal de contas, corujas são ou não são inteligentes?

Felizmente, ninguém se prejudicou com suas mentiras. E ela também, dependendo do lugar onde o cartaz havia sido colocado, tinha boa intuição para imaginar o que ele dizia. Mas e se um dia a sua intuição falhasse? E se um dia as suas mentiras levassem à perda de um animalzinho da floresta? Não, isso não poderia acontecer; porque, se acontecesse, ela jamais se perdoaria. Então, para evitar o pior, Juju resolveu aprender a ler. Mas como?... Assistindo às aulas da escola da cidade. Do lado de fora, é claro, mais precisamente, pousada no peitoril da janela. E as crianças, todos os dias, deliciavam-se ao ver a corujinha com os olhos colados nas explicações da lousa. Com o tempo, pararam de notá-la; mas Juju continuava ali, firme e interessada em aprender.

A corujinha provou ser muito inteligente. Fez mais do que aprender. Começou a lecionar e escreveu uma cartilha que apresentava primeiro as letras do alfabeto; depois, relacionava cada letra a um serzinho da floresta, para que todos pudessem memorizar as letras com mais facilidade.

Quando digo seres da floresta, naturalmente, também estão incluídos os elfos, os gnomos, os duendes, as fadas e por que não a curiosa bruxa? Todos quiseram aprender. E aprenderam. Depois de juntar as letras para formar as palavras, começaram a juntar as palavras para formar as frases. Mas a corujinha, ao perceber que os dizeres pareciam mortos, acrescentou na cartilha um capítulo todinho sobre pontuação. Foi aí que tudo ganhou vida e começou a fazer sentido.

Não demorou muito para que todos na floresta começassem a se sentir mais tranquilos e seguros, porque agora conseguiam ler os cartazes de avisos. E também, com o passar do tempo, sentiram-se até mais felizes, porque começaram a registrar, através da escrita, as ideias e histórias maravilhosas que lhes visitavam a imaginação.

E a corujinha Juju, além de se sentir aliviada por não precisar mais mentir, viu o seu esforço recompensado; mais do que isso, sentiu o coraçãozinho estremecer no peito ao receber um poema escrito, com todo o amor, pelo Dr. Corujão.

FIM


Sisi Marques

A ESTRADA QUE NINGUÉM MAIS PERCORREU


A ESTRADA QUE NINGUÉM MAIS PERCORREU

Naquela vila, havia uma estrada
Pela qual ninguém desejava passar.
As crianças aprendiam na escola
Que quem por ela seguia
Não conseguia mais retornar.


Aquela estrada que todos temiam
Sem saber o que nela havia,
Porque quem por ela seguia
Não voltava para contar o que vira,
Enchia a cabeça dos moradores da vila
De visões de monstros e assombrações.


Mas, certo dia, um garoto órfão,
Que dizia chamar-se Valentino,
Destemidamente a percorreu;
E encontrou, em seu término,
Uma colossal pedra dourada,
Em cuja superfície reluzente,
Havia sido entalhada a figura
De um imponente leão.


A delicada mãozinha acompanhou
O contorno do desenho até onde
A sua pequenina estatura permitiu.
E, de repente, a estrada desapareceu.


No lugar da estrada abandonada,
Um reino mágico surgiu, e pessoas
Estranhamente vestidas surgiram
Para dar-lhe calorosas boas-vindas.


Valentino, que nunca sorria,
Um enorme sorriso esboçou
E pediu permissão para retornar
E contar as maravilhas que vira.


A permissão foi concedida,
Mas todos da vila pensaram
Que Valentino mentia, e ninguém
Acreditou que ele tivesse percorrido
A tão temida estrada proibida.


A nossa história termina
Com o desaparecimento
Do garoto Valentino.


Nos livros de História, os moradores da vila
Registraram o desaparecimento do menino.
E nunca mais se teve notícia de que alguém
Tivesse ousado percorrer a estrada proibida.


Sisi Marques


domingo, 9 de fevereiro de 2014

A SABEDORIA DO PRÍNCIPE






A SABEDORIA DO PRÍNCIPE


Um bondoso rei, certa vez, viu-se em apuros, porque a horrenda e perversa bruxa da floresta havia feito desaparecer as cores do seu reino. Contudo, o que mais preocupava o rei não era tanto a ausência de cores, e sim o que o seu amado filho teria que fazer para trazê-las de volta: casar-se com a tal bruxa.

O rei, com o coração apertado, foi procurar o príncipe para falar-lhe sobre o enorme sacrifício que dele era esperado. Para espanto do rei, o príncipe não se aborreceu, e disse calmamente:

– Nosso povo não pode viver sem a alegria das cores; portanto, diga à adorável bruxinha que, se ela conseguir atender a dois pedidos meus, prometo casar-me com ela. Mas diga-lhe também que ficarei livre do compromisso, se sua magia não for boa o bastante para satisfazê-los; e, mesmo sem casamento, ela terá que devolver as cores.

Quando a bruxa tomou conhecimento de que bastaria realizar dois desejos do príncipe para tê-lo como esposo; sem pensar duas vezes, apanhou sua vassoura e voou até o palácio.

Amistosamente recebida pelo príncipe, a bruxa ouvia com atenção o seu primeiro pedido:

– Como sempre sonhei em me casar com uma bela princesa, gostaria que seu feitiço fosse bom o suficiente para transformar você na mais formosa princesa que já habitou este planeta.

A bruxa resmungou:

– Não poderia pedir que eu me transformasse em outra coisa?!... Princesas são feias e malcheirosas!... Está bem! Pare de olhar para mim com esse ar de vitória, porque não irá conseguir escapar desta vez!

E a bruxa, depois de provocar um enorme estouro que a cobriu de fumaça, transformou-se na mais bela princesa que o príncipe tivera a honra de conhecer.

Entretanto, havia muita maldade em seus olhos; e o príncipe, para corrigir isso, fez o segundo pedido:

– Beleza só não basta; desejo que o seu coração se torne tão puro quanto o coração de uma criança.

A bruxa, contrariada, protestou:

– Isso já é demais! Peça outra coisa, qualquer coisa, menos isso!

O príncipe, pacientemente, respondeu:

– Já fiz o meu pedido. Se me ama, irá atendê-lo. A escolha é sua: é pegar ou largar.

Mal-humorada, a bruxa perguntou surpresa:

– Amá-lo?!... Está pedindo que eu lhe prove o meu amor?!...

O príncipe respondeu com outra pergunta:

– Se você não me ama, por que deseja casar-se comigo?

A bruxa, confusa, ficou sem resposta. E, depois de um mal-humorado “Está certo!”, provocou um novo estrondo que colocou um fim em sua maldade.

O príncipe, satisfeito com a prova de amor que a “ex-bruxa” lhe dera, apaixonou-se pela “formosa princesa”, e cumpriu sua promessa de se casar.

Quando as cores voltaram ao reino do bondoso rei, estavam mais vivas e brilhantes do que nunca.

F  I  M

Sisi Marques



DECISÃO DE SER FELIZ APESAR DAS ADVERSIDADES

Eu, Sisi Marques, hoje estou aqui para incentivá-lo a refletir sobre a história. Você poderia me perguntar: “Por que devo refletir sobre a história?!... Ela é só uma história como qualquer outra!...” Nesse ponto, você tem razão: ela não é especial. Mas, como qualquer outra história, ela tem uma razão de existir. Se alguém tentasse modificá-la, ela perderia sua essência.

Nessa história, “A Sabedoria do Príncipe”, imagine o que teria acontecido se o nosso principezinho tivesse caído em desespero... Ele teria se sentido irremediavelmente infeliz e deserdado da sorte!... Se ele se recusasse a casar com a bruxa, o seu reino assumiria um aspecto sombrio por não poder desfrutar da alegria e da magia das cores. Por outro lado, se ele se casasse com a bruxa, no mesmo instante em que as cores voltassem a encantar o seu reino, os seus sonhos de felicidade afundariam em um pardo e viscoso lamaçal. E, consequentemente, o desgosto do príncipe pela vida teria trazido infelicidade para todo o reino. A situação do desditoso príncipe teria ficado ainda pior se, além de feia na aparência, a bruxa ainda tivesse o coração envolto pelo véu da maldade.

Mas, felizmente, o nosso príncipe era muito inteligente, sensato e lúcido. Em vez de ceder às sugestões da autopiedade, ele deve ter pensado: “Como poderei servir ao meu reino, sem desistir dos meus sonhos?!” Ele desejava casar-se com uma jovem que fosse bela e bondosa. Embora a bruxa desejasse unir-se a ele, ela era o oposto do que ele havia imaginado. Mas o nosso gentil príncipe sabia que a bruxa, vaidosa de sua magia, não recusaria o desafio. De qualquer modo, focando-se no que a situação poderia lhe oferecer de melhor, ele conseguiu revertê-la a seu favor: ou a bruxa usava sua magia para corresponder ao ideal de perfeição que ele acalentara, ou ela teria que admitir que sua magia não era tão boa quanto ela costumava afirmar.

É bem verdade que a bruxa poderia não ter aceitado o desafio, e o reino poderia ter ficado sem as cores indefinidamente. Mas o amor é mágico e pode enternecer até mesmo um coração empedernido.

Agora eu lhe pergunto: Se fosse você o príncipe dessa história, como teria reagido?!... Você teria se desesperado, ou teria procurado extrair o melhor da situação para encontrar uma saída favorável e criativa?!...

Lembre-se: A inteligência e a calma nos convidam a refletir antes de agir. O desespero nunca foi bom conselheiro. Obrigada por sua atenção.

Sisi Marques