Esmerino passava, várias vezes por dia, na esquina onde havia a única loja de brinquedos da vila. Seus olhos quase se destacavam das órbitas, para irem brincar com aquele trenzinho azul, de madeira, que lhe roubava horas e horas de sono.
É verdade: a
preocupação de que o trenzinho fosse vendido, antes que o seu pai tivesse o
dinheiro para comprá-lo, fazia com que Esmerino demorasse a pegar no sono. O
seu pai trabalhava no mercado e só receberia o salário no final do mês... E
faltavam ainda três longas semanas!...
Esquecendo-se dos
conselhos de seus amiguinhos para que ele se afastasse de Rodrigo, o garoto
rico da região, Esmerino contou a ele sobre o seu receio de que alguém
comprasse o trenzinho. Os dois conversaram em uma sexta-feira, e as lágrimas
transbordaram dos olhos de Esmerino no domingo, quando ele verificou que o
trenzinho não estava mais na vitrine.
Na segunda-feira, os
seus colegas disseram: “Foi ele!!! Foi Rodrigo quem comprou o seu trenzinho.
Ele não ajuda ninguém!... Ele só gosta de humilhar os outros!...”
Esmerino foi correndo
até a loja e sentiu-se arrasado quando o vendedor confirmou que Rodrigo, o
menino rico da vila, o havia comprado. O primeiro pensamento de Esmerino foi
afastar-se de Rodrigo, mas isso ele não conseguiria fazer porque o sorriso e a
espontaneidade de Rodrigo eram tão cativantes!... A palavra “falsidade” começou
a ecoar na mente de Esmerino... Mas o seu coração era imenso, e ele preferiu
perder apenas o trenzinho.
O final do mês chegou, e
o pai de Esmerino, satisfeito, entregou-lhe o dinheiro para comprar o
trenzinho. Esmerino, com receio de magoar o pai, não teve coragem de dizer que
o seu melhor amigo o traíra e roubara o seu trenzinho. Esmerino escondeu-se
atrás de uma árvore e, segurando o dinheiro em uma das mãos, secava as lágrimas
com a outra e, quase morreu de susto, quando ouviu a voz de Rodrigo
perguntar-lhe: “Você conseguiu o dinheiro?”
Segurando um pacote,
cuidadosamente embrulhado, Rodrigo repetiu a pergunta antes de explicar: “O meu
pai me proíbe de fazer caridade, portanto, eu não poderia comprar o trenzinho e
dá-lo de presente a você. Mas eu também não poderia deixar que outro garoto o
comprasse. Ele está aqui... Embrulhado com o papel da loja... Está exatamente
como eu o comprei. Eu disse ao meu pai que era um empréstimo... Você tem ou não
o dinheiro?!...”
Esmerino sorriu ao
entregar o dinheiro a Rodrigo e receber o pacote. Após abraçar e agradecer ao
amigo, ele correu para casa para mostrar a seu pai o trenzinho azul que ele
havia comprado.
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