Danilo não costumava
beber, mas foi até o bar, porque desejava fazer uma aposta com os amigos. Ele
disse: “Eu estou disposto a passar um dia e uma noite na casa assombrada. Se não acreditam, paguem para ver!...”
Os amigos riram
muito!... Enquanto um deles lhe oferecia um copo de cerveja, outro exclamou: “O
amor roubou os seus miolos!... Precisa de dinheiro para se casar, e resolveu
dar uma de valente!!!... Muitos já tentaram, mas ninguém conseguiu passar a
noite na mansão assombrada. Se o
aconselhássemos a desistir da ideia, você pensaria que não somos seus amigos...
Aceitaremos a aposta. Se você conseguir pernoitar na casa, levará o nosso
dinheiro. Mas se sair de lá correndo como um coelhinho assustado, além de não
ganhar nada, terá que vestir uma fantasia de coelho e ir até a praça para que
todos nós possamos nos divertir, atirando-lhe cenouras.”
Danilo amava Leonora e
deseja casar-se com ela o mais breve possível. Ele faria qualquer coisa para
apressar a sua felicidade... No dia seguinte, lá estava ele na entrada do
casarão que parecia abandonado há séculos. Se algum mal acontecesse a ele,
ninguém apareceria para socorrê-lo, porque ninguém conseguiria ouvi-lo. A
floresta escondia a propriedade e a protegia como se fosse uma fortaleza.
Danilo respirou fundo e fixou o seu pensamento em Leonora no momento em que o
pesadelo começou.
Os fantasmas apareciam
e falavam todos ao mesmo tempo. Todos eles desejavam roubar-lhe a atenção e,
para isso, gritavam, gesticulavam e o puxavam para um canto como se quisessem
contar-lhe algum segredo ou pedir-lhe algo. Para distrair-se, ele apanhou a
única coisa que havia levado consigo: o seu violão; e começou a cantar a canção
que havia criado para Leonora.
O pensamento de Danilo
estava completamente voltado para a jovem que ele amava... Os fantasmas se
calaram e passaram a observá-lo calmamente. Quando ele parou de cantar, ele
olhou ao redor e percebeu que estava sozinho.
Desanimado, Danilo
pensou: “Eu deveria ter trazido algo para comer.” Nesse mesmo instante, ele
olhou para o chão e viu um fio de lã estendido. Curioso, ele se levantou do
chão e seguiu o fio, que o conduziu até a cozinha. Danilo ficou surpreso e
feliz ao verificar que havia, sobre a mesa, uma cesta com frutas. Após comer,
ele deixou a cozinha e subiu um lance de escadas. Havia um corredor enorme e
várias portas. Ele abriu a primeira, e os seus olhos se depararam com um quarto
acolhedor.
Danilo sentou-se na
cama e começou a tocar novamente. Mas logo parou porque ouviu uma batida à
porta. Ele se levantou para abri-la... Não havia ninguém, mas o fio de lã
estendia-se pelo corredor e passava por debaixo de outra porta. Ele seguiu o
fio e bateu à porta. Um dos fantasmas, que o recebera quando ele havia entrado
na casa, abriu a porta e disse: “Que bom que você apareceu para me ajudar... Eu
preciso devolver essa pilha de livros na estante.” O fantasma era bem velhinho,
e Danilo realizou sozinho a tarefa.
Quando ele terminou de
guardar os livros, o fantasma disse: “Agora você precisa ir ao quarto em frente
para ajudar a minha esposa a terminar a costura.” Danilo já estava deixando o
quarto quando o velhinho perguntou: “Você é sempre tão calado?!... Se a garota
não o ama, você deve esquecê-la!... Aquela canção é muito triste!...” Danilo
confidenciou: “Eu escrevi a canção antes de saber que Leonora me amava. Ela
estava noiva, mas desistiu do casamento para namorar comigo. O problema é que
sou muito pobre, e se eu não conseguir logo o dinheiro para que possamos nos
casar, o ex-noivo de Leonora acabará convencendo-a a reatar o compromisso.” O
fantasma ficou pensativo, e Danilo saiu.
No quarto de costura da
esposa do fantasma, havia um enorme cesto cheio de roupas; Danilo apanhou um
paletó e começou a costurar a manga que estava quase toda despregada. Ele foi
costurando uma peça após a outra. Quando ele terminou e se despediu da
velhinha, ela disse: “Saindo daqui, você verá um fio de lã que o levará para
outra ala da casa. O meu filho precisa de sua ajuda para limpar um quarto que
está abarrotado de coisas velhas e imprestáveis.”
Lá estava Danilo
novamente seguindo o misterioso fio de lã. Ele teve que andar muito antes de
chegar ao quarto... Subiu e desceu escadas e teria se perdido se o grosso fio
verde não estivesse sempre lhe mostrando o caminho.
Danilo parou ao
verificar que o fio continuava o seu trajeto por debaixo de uma porta. Ele se
surpreendeu quando o velhinho a abriu para recebê-lo, porque imaginava que
fosse encontrar o filho dele, mas limitou-se a perguntar: “Onde está o
amontoado de coisas velhas?!... Para mim, tudo parece estar em ordem.”
O velhinho coçou a
barba enquanto dizia: “É porque você ainda não olhou dentro do armário. Ele
está entulhado de coisas até o teto.” Danilo abriu a porta do armário e disse:
“Não há nada aqui além de uma escada. O seu filho deve tê-lo esvaziado.” O
velhinho sugeriu: “Suba na escada e verifique se ele não colocou tudo no sótão.
O teto é falso. Você terá que levantá-lo levemente e fazer com que ele deslize
para o lado direito. Aqui está uma lanterna para ajudá-lo a ver o que há lá em cima.”
Sem reclamar, Danilo
aceitou a sugestão e subiu até o sótão. Um baú era tudo o que havia. Ele
imaginou que estivesse trancado. Segurou a tampa e levantou-a, direcionando a
luz da lanterna para o interior do baú. A princípio, ele ficou maravilhado com
o que viu, mas depois soltou a tampa e riu, imaginando tratar-se de uma peça
que o velhinho desejava pregar-lhe. Ele resolveu descer e recolocou o teto onde
o encontrara.
Quando Danilo saiu do
armário, verificou que estava sozinho no quarto. Sentia-se tão cansado que a
única coisa que lhe restava a fazer era dormir até o dia clarear. Ele se deitou
e dormiu profundamente.
Na manhã seguinte, Danilo procurou os
fantasmas para despedir-se e agradecer-lhes pela hospitalidade, mas não os
encontrou. Ele deixou a mansão, atravessou a floresta e, quando chegou à
cidade, foi ao bar onde havia realizado a aposta. Os amigos o aguardavam...
Entregaram-lhe o dinheiro e lhe pagaram um substancioso café da manhã. Enquanto
Danilo se alimentava, começou a contar como havia sido a sua estadia na casa,
mas interrompeu sua história quando se lembrou de seu violão. Ele o havia
esquecido naquele primeiro quarto que entrara, e precisava retornar à mansão
para buscá-lo.
Quando ele estava
deixando o bar, um de seus amigos disse em tom de gracejo: “Além do violão,
traga também o ouro... O meu primo, que trabalha no cartório, disse que há um
baú cheio de moedas de ouro em um dos cômodos da casa. Você não conseguiu
encontrá-lo?!... Se o tivesse encontrado, estaria riquíssimo, e poderia nos
emprestar o seu dinheiro, em vez de levar o nosso!... Segundo o meu primo, existe
um documento que diz que a mansão e o ouro pertencem a quem conseguir
encontrá-lo. Só você conseguiu passar a noite lá... Procurando o violão, talvez
consiga encontrar o baú!...”
Danilo entrou novamente
e sentou-se com o olhar perdido na lembrança do baú repleto de moedas de ouro
que ele vira no sótão. Por um momento, ele perdeu a ligação com a realidade...
Os seus amigos falavam, e ele parecia não compreender o que eles diziam...
Quando Danilo conseguiu
se recuperar do impacto que a revelação de seu amigo lhe causara, ele teve um
acesso de riso... Foi só depois de alguns minutos que ele encontrou fôlego para
contar a história toda. Naturalmente, os amigos não acreditaram, e ele
conseguiu convencê-los a ir até a mansão.
Para o espanto de
Danilo, a mobília, os quadros na parede e os objetos que ele vira não passavam
de ilusão. A cozinha também estava vazia... Danilo, quando subiu o primeiro
lance de escadas que o levaria ao quarto onde deixara o seu violão, chegou a
duvidar que o encontraria, mas lá estava ele!...
Em seguida, Danilo e os
amigos fizeram o percurso até o quarto do filho do casal de velhinhos. Danilo
não tinha esperança de localizar o ouro... Contudo, quando ele abriu o armário,
lá estava a escada e, sobre um dos degraus, a lanterna. Ele subiu a escada...
Deslocou o teto... E chorou de felicidade quando ele e os amigos comprovaram a
existência do ouro que garantiria à sua futura esposa uma vida ainda mais
confortável do que ela teria tido se tivesse se casado com o seu rival.
Nenhum comentário:
Postar um comentário