segunda-feira, 21 de julho de 2014

DANILO E OS FANTASMAS DA MANSÃO ABANDONADA



Danilo não costumava beber, mas foi até o bar, porque desejava fazer uma aposta com os amigos. Ele disse: “Eu estou disposto a passar um dia e uma noite na casa assombrada.  Se não acreditam, paguem para ver!...”

Os amigos riram muito!... Enquanto um deles lhe oferecia um copo de cerveja, outro exclamou: “O amor roubou os seus miolos!... Precisa de dinheiro para se casar, e resolveu dar uma de valente!!!... Muitos já tentaram, mas ninguém conseguiu passar a noite na mansão assombrada.  Se o aconselhássemos a desistir da ideia, você pensaria que não somos seus amigos... Aceitaremos a aposta. Se você conseguir pernoitar na casa, levará o nosso dinheiro. Mas se sair de lá correndo como um coelhinho assustado, além de não ganhar nada, terá que vestir uma fantasia de coelho e ir até a praça para que todos nós possamos nos divertir, atirando-lhe cenouras.”

Danilo amava Leonora e deseja casar-se com ela o mais breve possível. Ele faria qualquer coisa para apressar a sua felicidade... No dia seguinte, lá estava ele na entrada do casarão que parecia abandonado há séculos. Se algum mal acontecesse a ele, ninguém apareceria para socorrê-lo, porque ninguém conseguiria ouvi-lo. A floresta escondia a propriedade e a protegia como se fosse uma fortaleza. Danilo respirou fundo e fixou o seu pensamento em Leonora no momento em que o pesadelo começou.

Os fantasmas apareciam e falavam todos ao mesmo tempo. Todos eles desejavam roubar-lhe a atenção e, para isso, gritavam, gesticulavam e o puxavam para um canto como se quisessem contar-lhe algum segredo ou pedir-lhe algo. Para distrair-se, ele apanhou a única coisa que havia levado consigo: o seu violão; e começou a cantar a canção que havia criado para Leonora.


O pensamento de Danilo estava completamente voltado para a jovem que ele amava... Os fantasmas se calaram e passaram a observá-lo calmamente. Quando ele parou de cantar, ele olhou ao redor e percebeu que estava sozinho.

Desanimado, Danilo pensou: “Eu deveria ter trazido algo para comer.” Nesse mesmo instante, ele olhou para o chão e viu um fio de lã estendido. Curioso, ele se levantou do chão e seguiu o fio, que o conduziu até a cozinha. Danilo ficou surpreso e feliz ao verificar que havia, sobre a mesa, uma cesta com frutas. Após comer, ele deixou a cozinha e subiu um lance de escadas. Havia um corredor enorme e várias portas. Ele abriu a primeira, e os seus olhos se depararam com um quarto acolhedor.

Danilo sentou-se na cama e começou a tocar novamente. Mas logo parou porque ouviu uma batida à porta. Ele se levantou para abri-la... Não havia ninguém, mas o fio de lã estendia-se pelo corredor e passava por debaixo de outra porta. Ele seguiu o fio e bateu à porta. Um dos fantasmas, que o recebera quando ele havia entrado na casa, abriu a porta e disse: “Que bom que você apareceu para me ajudar... Eu preciso devolver essa pilha de livros na estante.” O fantasma era bem velhinho, e Danilo realizou sozinho a tarefa.

Quando ele terminou de guardar os livros, o fantasma disse: “Agora você precisa ir ao quarto em frente para ajudar a minha esposa a terminar a costura.” Danilo já estava deixando o quarto quando o velhinho perguntou: “Você é sempre tão calado?!... Se a garota não o ama, você deve esquecê-la!... Aquela canção é muito triste!...” Danilo confidenciou: “Eu escrevi a canção antes de saber que Leonora me amava. Ela estava noiva, mas desistiu do casamento para namorar comigo. O problema é que sou muito pobre, e se eu não conseguir logo o dinheiro para que possamos nos casar, o ex-noivo de Leonora acabará convencendo-a a reatar o compromisso.” O fantasma ficou pensativo, e Danilo saiu.

No quarto de costura da esposa do fantasma, havia um enorme cesto cheio de roupas; Danilo apanhou um paletó e começou a costurar a manga que estava quase toda despregada. Ele foi costurando uma peça após a outra. Quando ele terminou e se despediu da velhinha, ela disse: “Saindo daqui, você verá um fio de lã que o levará para outra ala da casa. O meu filho precisa de sua ajuda para limpar um quarto que está abarrotado de coisas velhas e imprestáveis.”

Lá estava Danilo novamente seguindo o misterioso fio de lã. Ele teve que andar muito antes de chegar ao quarto... Subiu e desceu escadas e teria se perdido se o grosso fio verde não estivesse sempre lhe mostrando o caminho.

Danilo parou ao verificar que o fio continuava o seu trajeto por debaixo de uma porta. Ele se surpreendeu quando o velhinho a abriu para recebê-lo, porque imaginava que fosse encontrar o filho dele, mas limitou-se a perguntar: “Onde está o amontoado de coisas velhas?!... Para mim, tudo parece estar em ordem.”

O velhinho coçou a barba enquanto dizia: “É porque você ainda não olhou dentro do armário. Ele está entulhado de coisas até o teto.” Danilo abriu a porta do armário e disse: “Não há nada aqui além de uma escada. O seu filho deve tê-lo esvaziado.” O velhinho sugeriu: “Suba na escada e verifique se ele não colocou tudo no sótão. O teto é falso. Você terá que levantá-lo levemente e fazer com que ele deslize para o lado direito. Aqui está uma lanterna para ajudá-lo a ver o que há lá em cima.”

Sem reclamar, Danilo aceitou a sugestão e subiu até o sótão. Um baú era tudo o que havia. Ele imaginou que estivesse trancado. Segurou a tampa e levantou-a, direcionando a luz da lanterna para o interior do baú. A princípio, ele ficou maravilhado com o que viu, mas depois soltou a tampa e riu, imaginando tratar-se de uma peça que o velhinho desejava pregar-lhe. Ele resolveu descer e recolocou o teto onde o encontrara.

Quando Danilo saiu do armário, verificou que estava sozinho no quarto. Sentia-se tão cansado que a única coisa que lhe restava a fazer era dormir até o dia clarear. Ele se deitou e dormiu profundamente.

 Na manhã seguinte, Danilo procurou os fantasmas para despedir-se e agradecer-lhes pela hospitalidade, mas não os encontrou. Ele deixou a mansão, atravessou a floresta e, quando chegou à cidade, foi ao bar onde havia realizado a aposta. Os amigos o aguardavam... Entregaram-lhe o dinheiro e lhe pagaram um substancioso café da manhã. Enquanto Danilo se alimentava, começou a contar como havia sido a sua estadia na casa, mas interrompeu sua história quando se lembrou de seu violão. Ele o havia esquecido naquele primeiro quarto que entrara, e precisava retornar à mansão para buscá-lo.

Quando ele estava deixando o bar, um de seus amigos disse em tom de gracejo: “Além do violão, traga também o ouro... O meu primo, que trabalha no cartório, disse que há um baú cheio de moedas de ouro em um dos cômodos da casa. Você não conseguiu encontrá-lo?!... Se o tivesse encontrado, estaria riquíssimo, e poderia nos emprestar o seu dinheiro, em vez de levar o nosso!... Segundo o meu primo, existe um documento que diz que a mansão e o ouro pertencem a quem conseguir encontrá-lo. Só você conseguiu passar a noite lá... Procurando o violão, talvez consiga encontrar o baú!...”

Danilo entrou novamente e sentou-se com o olhar perdido na lembrança do baú repleto de moedas de ouro que ele vira no sótão. Por um momento, ele perdeu a ligação com a realidade... Os seus amigos falavam, e ele parecia não compreender o que eles diziam...

Quando Danilo conseguiu se recuperar do impacto que a revelação de seu amigo lhe causara, ele teve um acesso de riso... Foi só depois de alguns minutos que ele encontrou fôlego para contar a história toda. Naturalmente, os amigos não acreditaram, e ele conseguiu convencê-los a ir até a mansão.

Para o espanto de Danilo, a mobília, os quadros na parede e os objetos que ele vira não passavam de ilusão. A cozinha também estava vazia... Danilo, quando subiu o primeiro lance de escadas que o levaria ao quarto onde deixara o seu violão, chegou a duvidar que o encontraria, mas lá estava ele!...

Em seguida, Danilo e os amigos fizeram o percurso até o quarto do filho do casal de velhinhos. Danilo não tinha esperança de localizar o ouro... Contudo, quando ele abriu o armário, lá estava a escada e, sobre um dos degraus, a lanterna. Ele subiu a escada... Deslocou o teto... E chorou de felicidade quando ele e os amigos comprovaram a existência do ouro que garantiria à sua futura esposa uma vida ainda mais confortável do que ela teria tido se tivesse se casado com o seu rival.


Nenhum comentário:

Postar um comentário