O castelo, construído
pelo jovem mago há mais de dois séculos, provocava arrepios mesmo quando a
neblina envolvia a montanha sombria e o tornava invisível.
Se aquela construção
imponente atemorizava os habitantes da vila, imagine só o pavor que aquele
semblante frio e impenetrável, no qual o tempo não conseguira deixar suas
marcas, provocava.
O nome do mago ninguém
ousava pronunciar. Apenas o reluzente gato negro sabia qual era o único arrependimento
que ele guardava, porque o mago lhe dizia todas as manhãs: “Acorde, gato
preguiçoso!... A astúcia daquela serpente uniu o meu destino ao seu!... Quando
eu fui visitá-la para exigir que se casasse comigo, ela afirmou que só se
casaria com você. Eu reuni todos os meus poderes para transformá-lo nesse gato.
Se ela desejasse vê-lo novamente, ela teria que se unir a mim. Após a
realização do feitiço, eu tive que me recolher para recuperar a quantidade
enorme de energia que eu havia gasto inutilmente.”
Após colocar o leite na
vasilha do gato, o mago acrescentava: “Aquela viborazinha mentiu que estava
apaixonada por você e esperava mesmo que eu o enfeitiçasse, porque desejava se livrar
da sua insistência. Posteriormente, as minhas investigações revelaram que você
havia entregado ao pai dela muito dinheiro em troca do consentimento dele para se
casar com ela.”
Quando o mago chegava
nesta parte, já havia se sentado em sua poltrona, e deixava o chocolate quente
esfriar enquanto dizia: “Mas o que mais me enfurece é saber que ela não
arquitetou esse plano sórdido sozinha. O chacal que eu criei como se fosse meu
próprio filho e a quem ensinei tudo o que eu sabia, incluindo a preparação do
feitiço da imortalidade, deve tê-la orientado.
Não existe outra explicação!... Quando eu despertei do sono profundo de
refazimento, ele havia desaparecido, e a garota também nunca mais foi vista. Os
dois estavam apaixonados certamente!... E pensar que eu me dei ao trabalho de
roubá-lo de sua mãe quando ele ainda era um bebê!... Esse é o único
arrependimento que tenho!... Se eu tivesse conseguido prever que ele me trairia
depois de tudo o que eu tencionava fazer por ele, eu jamais lhe teria dado o
privilégio de assemelhar-se a mim. E o pior de tudo é que não consigo
rastreá-los porque a magia dele atingiu um alto grau de excelência e não deixa
vestígios!...”
A conversa do mago com
o gato nunca se estendia além desse ponto. Embora os dois passassem o dia todo
juntos, o mago guardava a sua revolta para si, e o gato também compreendia a
inutilidade de expressar sua desventura em miados.
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