A mãe da princesa
Josenira morreu no momento em que ela nasceu, e a garotinha cresceu ouvindo as
criadas do castelo dizerem: “Josenira, querida, nunca se case, porque os homens
são todos iguais: nenhum deles presta.”.
E a jovem princesa
ficou terrivelmente preocupada quando o seu pai disse: “Eu não poderei governar
eternamente... Eu preciso que você se case e me dê um herdeiro. Você tem
exatamente um mês para decidir quem será o seu marido.”.
Josenira aventurou-se a
perguntar: “O que acontecerá se eu me recusar a escolher alguém?...”. O rei
respondeu: “Eu mesmo escolherei um marido para você: o mago Ataliba.”.
Josenira exclamou entre
lágrimas: “Não!... Não e não!... Mil vezes não!... Ele me assusta!... Eu jamais
me casaria com um mago!... Eu rezarei e pedirei para a minha Mãezinha me
mostrar, durante o sono, o rosto do homem com o qual eu devo me casar.”.
E Josenira, naquela
mesma noite, numa prece fervorosa, conversou com sua mãe e pediu a ela que lhe
enviasse um sinal. Quando Josenira adormeceu, ela teve um sonho que ficaria
gravado para sempre em seu coração. Ela estava sentada em um banco do jardim do
castelo, e um jovem mascarado aproximou-se e disse: “Beije-me, Josenira.”. Inexplicavelmente,
ele conseguia atraí-la de um modo irresistível... Ela se deixou envolver em seu
abraço e o beijou como se aquele beijo fosse tudo o que ela mais desejasse na
vida.
A princesa acordou
atordoada. Após refazer-se da emoção, ela foi procurar o rei para dizer: “Pai,
eu só me casarei com o homem que beijei esta noite no meu sonho.”.
Alarmado, o rei
perguntou: “Você beijou um homem enquanto dormia?... Quem é ele?”. A princesa
respondeu: “Eu não sei, mas eu hei de descobrir, nem que para isso eu tenha que
beijar todos os homens do reino.”.
O rei exclamou: “Você
enlouqueceu!... Se você beijar alguém que não seja o seu futuro esposo, eu
terei que mandar matá-lo!...” A princesa sugeriu: “Em vez disso, poderá pedir
ao mago Ataliba que os transforme em estátuas de pedra para enfeitarem o
jardim. Naturalmente eu exagerei quando disse que beijaria todos os homens do
reino... Eu mal suporto a ideia de ter que beijar um que não seja o homem que
beijei no meu sonho!... Dezessete!...
Apenas dezessete!... Permita, pai, que eu beije dezessete pretendentes!... O
meu príncipe há de ser um deles!...”.
Uma semana depois,
Josenira quase voltou atrás em sua decisão quando viu os dezessete príncipes
enfileirados, aguardando o seu beijo de amor. Ela beijou o primeiro, beijou o
segundo e continuou beijando aqueles homens, cujo beijo nada tinha a ver com o
beijo que ela retribuíra em seu sonho. Enquanto beijava o décimo sétimo
pretendente, ela desmaiou em seus braços.
Josenira adoeceu
gravemente, e os homens que ela beijara foram transformados em estátuas. Desesperado,
o rei disse: “Filha, você não precisa se casar... O meu único desejo é que você
se restabeleça.”.
A princesa murmurou: “Agora
é tarde. Eu desejei morrer para fugir ao casamento, e agora a morte está aqui
ao meu lado e me aconselha a limpar a minha consciência antes de partirmos:
Ordene ao mago Ataliba que traga de volta à vida os homens que foram
transformados em estátuas.”.
Pesaroso, o rei foi
procurar o mago para ordenar-lhe que cumprisse o desejo da princesa. Sem
demonstrar o menor embaraço, Ataliba respondeu: “Eu faria o que a princesa
Josenira deseja, se eu pudesse. Apenas Reinaldo seria capaz de devolver a vida àqueles
homens, mas eu receio que ele não esteja em seu juízo perfeito. Ele era um
grande mago, mas teve um sonho que o levou à loucura. Eu tentei ajudá-lo, mas
ele se recusa a falar sobre o sonho. Ele só sabe dizer que teve um sonho, e é
por causa do sonho que ele começou a usar aquela máscara. Ele não está em
condições de ajudar nem a si mesmo... Eu duvido que ele consiga reverter o
feitiço.”.
O rei mal prestou
atenção à história que o mago Ataliba contou sobre o mago Reinaldo. Ele
ordenou: “Traga já esse homem.”
Quando Ataliba chegou
ao castelo acompanhado de Reinaldo, o rei surpreendeu-se com a rapidez que ele
desfez o encanto que havia tolhido os movimentos dos príncipes que ousaram
beijar sua filha Josenira. Esperançoso, o rei implorou: “Cure a minha filha e
você será generosamente recompensado.”. Reinaldo era um homem de poucas
palavras e disse apenas: “Leve-me até ela.”.
Ao ver Josenira
entregue àquele sono que parecia eterno, Reinaldo ordenou ao rei: “Deixe-nos a
sós.”. O rei se afastou resignado, enquanto Reinaldo não conseguia tirar os
olhos do rosto de Josenira. Ele murmurou: “É você!... Eu passei a usar esta
máscara desde aquela noite em que nos beijamos em um sonho, porque eu desejava
que você me reconhecesse. Acorde, minha princesa, e olhe para mim... Era o meu
beijo que você buscava no dia em que beijou aqueles homens que foram
transformados em estátuas. Eles estão vivos, e você também viverá para que
possamos repetir aquele beijo quantas vezes você desejar.”.
Reinaldo sorriu no
momento em que Josenira abriu os olhos e murmurou docemente: “Beije-me.” Os
dois se entregaram a um longo e apaixonado beijo. Uma semana depois, eles se
casaram e viveram felizes para sempre.
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