Eu, Caetano Augusto Petrarca dos Anjos, vou lhes
mostrar que ninguém pode enganar alguém, especialmente a si mesmo, por muito
tempo. Há muitos e muitos anos, um reino era governado por dois irmãos gêmeos:
Lúcio e Luciano. Os olhos poderiam se enganar ao contemplá-los, mas os ouvidos
sabiam distinguir perfeitamente um do outro. Lúcio era generoso e compreensivo,
e se esmerava em evidenciar o lado bom das coisas e das pessoas. Luciano, por
sua vez, parecia deleitar-se em revelar falhas e defeitos com sua língua
mordaz. O rei que realçava as virtudes era sincero e íntegro, enquanto o outro,
que só descortinava o que as pessoas tentavam esconder, era sagaz e
dissimulado, e conseguia sempre tirar proveito da situação. Certo dia, a
princesa Safira, que ainda não os conhecia, visitou o reino. Os dois reis
apaixonaram-se pela recém-chegada e pediram sua mão em casamento. Confusa, ela
não sabia qual dos dois escolher e acabou preferindo Luciano. Não demorou muito
para que a infeliz princesa compreendesse que havia feito a escolha errada. O
seu coração secretamente passou a pertencer a Lúcio, que, tristonho e calado,
cultuava o desamor e a solidão. Para a felicidade dos dois, entretanto, os
defeitos da adorável princesa logo começaram a saltar aos olhos de Luciano, e ele
resolveu se separar. Luciano fez mais do que isso: decidiu dividir o reino.
Safira casou-se com Lúcio, e os dois irmãos nunca mais voltaram a se encontrar.
Sisi Marques
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