Carlos era um homem simples.
Enquanto os seus amigos se arrumavam para ir à praça e às festas locais, sempre
com a perspectiva de conversarem e encontrarem uma companhia feminina atraente,
ele preferia ficar em sua casa, cuidando de seu pequeno jardim.
Ele não saberia dizer por que
amava tanto aquelas flores. Ele desconhecia os seus nomes científicos; e
desprezava seus nomes populares, se eles não pudessem ser atribuídos a alguma
jovem. Ele dizia: “Toda a mulher deve
ter nome de flor. E toda a flor deve ter um nome feminino que a torne única em
meio a todas as outras flores de sua espécie.”
É verdade: todas as flores do
jardim de Carlos tinham um nome e, se tivessem sentimentos, teriam se
considerado muito especiais. Certo dia, porém, uma tristeza daninha visitou o
coração de Carlos, e ele, distraído, pôs-se a escutá-la. Ela dizia: “Homem
tolo! Qual é a razão de tudo isso?! Por que você perde tantas horas cuidando
desse insignificante jardim?!... Especiais!... O que há de especial nessas
flores?!... Elas representam apenas um desperdício de tempo e energia!... Se
você fosse rico, e tivesse um imenso jardim, e pudesse contratar um jardineiro
habilidoso para cuidar das flores, aí sim elas se tornariam exuberantes e
dignas de contemplação. Vá cuidar da sua vida, que está na mais completa
desordem, e solte os laços que o prenderam a essas flores!... Eu sei qual é o
seu problema: você tece sonhos e, em sua imaginação, cada flor é uma fada que
necessita de cuidados para que possa viver mais e ter a sua beleza preservada.
Homem tolo!... Homem tolo!... Homem tolo!...”
A tristeza partiu o coração de
Carlos. Pela primeira vez em sua vida, ele chorou de saudade. Não era uma
saudade comum: era uma saudade antecipada. Não se pode desistir do que se ama.
Ele realmente acreditava em fadas, e tinha a esperança de, um dia, apaixonar-se
por uma delas e ser convidado a viver em uma terra encantada, em meio a flores
gigantescas. As flores, naturalmente, não cresceriam. Seria ele quem reduziria
de tamanho para apreciar melhor a beleza e o perfume adocicado das flores.
Carlos era um sonhador, e passou
vários anos indo de um extremo a outro. Ora acalentava o seu sonho, e ora
pensava em matá-lo em pleno voo. Mas ele não tinha coragem de matar algo que
havia adquirido a cor e o sabor da paixão. O seu sonho era como um fruto do
qual ele se alimentava.
Infelizmente, quem me contou essa
história não soube me dizer como ela termina. Eu prefiro acreditar que Carlos tenha
conseguido se manter fiel ao seu sonho. Os sonhos descortinam portais e nos convidam
a visitar essas realidades mágicas. Sem eles, jamais conheceríamos o sabor da paixão.
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