Era uma vez um rei muito
ambicioso, que não mediria esforços para que o seu reino prosperasse
rapidamente. Ele chegou mesmo a prometer a uma feiticeira que se casaria com
ela, se ela tivesse o poder de garantir a prosperidade de seu reino.
A feiticeira amava o
rei e cumpriu sua parte no acordo. Mas ela se decepcionou terrivelmente, quando
ele confessou na véspera do casamento: “Eu não amo você. Menti que me casaria, porque
desejava que o meu reino florescesse. Eu pretendo me casar com a princesa do
reino vizinho, para poder ampliar o meu reino.”.
A feiticeira, com o seu
manto azul recoberto de estrelas, pareceu mais alta do que era porque esticou o
corpo e levantou os braços enquanto dizia: “Você mentiu para mim durante três
meses, e o seu filho viverá na escuridão durante trinta anos, porque os olhos
dele não suportarão a luz do sol.”. No mesmo instante, ela desapareceu.
No dia seguinte, o rei
casou-se com a princesa que garantiria a expansão de seus domínios e de suas
riquezas. Após um ano, o primeiro e único filho que o casal teria nasceu.
Eram poucas as pessoas
que conheciam o garoto, porque ele frequentava apenas os cômodos que possuíam
grossas cortinas cobrindo as janelas.
A ambição do rei cedeu
lugar à tristeza e ao arrependimento. Ele não demorou a descobrir que também
não amava a sua esposa. E, com o passar do tempo, a saudade começou a
pressionar o seu coração. Ele repetia a si mesmo: “Saudade!... Eu deveria
odiá-la pelo mal que ela causou ao meu filho e, no entanto, eu sinto saudade!...
Como posso sentir saudade se não a amo?!... Se eu não a amasse, não sentiria
saudade!... Será que a amo?!... Não!... Não pode ser!...”.
E o inesperado
aconteceu... A rainha, que antes brilhava em festas e bailes deslumbrantes, não
conseguia se habituar a viver naquele palácio sombrio. Entristecida, ela costumava
pensar: “Não é porque o meu filho não suporta a luz que eu sou obrigada a
reduzir o meu esplendor!... Eu quero ser feliz!... E, para isso, tenho que
voltar a ser livre!... Preciso partir!...”. E, certo dia, a rainha comunicou ao
rei que o casamento estava desfeito; ela deixaria o filho aos cuidados dele e
voltaria a morar em seu antigo castelo. Embora surpreso com a
decisão da rainha, o rei não se animou a colocar objeções... Ele também ansiava
pela liberdade porque sentia saudade da feiticeira.
Quando sua ex-esposa
partiu, o rei foi procurar a feiticeira para dizer: “Você poderá pensar que
estou aqui apenas por causa do meu filho, mas isso não é verdade. Descobri que
amo você e peço que me perdoe.”.
Bebendo da sinceridade
que parecia haver nos olhos do rei, a feiticeira disse: “Se o que você diz é verdade,
o seu filho neste exato momento já está curado. Por outro lado, se o que você
diz é mentira, você não tornará a vê-lo porque eu o colocarei sob minha
proteção.”.
Esticando o corpo e
levantando os braços, a feiticeira pronunciou as palavras: “Ventos, ventos,
formem um redemoinho e me tragam o filho do rei se ele estiver mentindo.
Agasalhem-no, cubram-no, protejam-no dos olhos deste pai mentiroso!...”.
A feiticeira esperou,
esperou, e nada aconteceu... Os ventos permaneceram calmos, e o coração dela
também serenou. Com a voz encharcada de paixão, ela perguntou: “Quando você
descobriu que me amava?!...”.
O rei, retribuindo a
ternura que havia nos olhos da feiticeira, disse: “Eu sempre a amei, mas talvez
não quisesse admitir... Foi a saudade que fez com que eu compreendesse que nada
tem sentido quando estou longe de você.”. A feiticeira sorriu, e o rei a
beijou.
Quando o beijo
terminou, o rei ficou surpreso ao verificar que estavam no jardim do palácio. E
ele ficou radiante quando ouviu o filho chamando por ele e o viu correndo em sua
direção sob a luz do sol.
Nenhum comentário:
Postar um comentário