sexta-feira, 14 de agosto de 2015

A AMBIÇÃO, A MENTIRA E A SAUDADE DO REI


Era uma vez um rei muito ambicioso, que não mediria esforços para que o seu reino prosperasse rapidamente. Ele chegou mesmo a prometer a uma feiticeira que se casaria com ela, se ela tivesse o poder de garantir a prosperidade de seu reino.

A feiticeira amava o rei e cumpriu sua parte no acordo. Mas ela se decepcionou terrivelmente, quando ele confessou na véspera do casamento: “Eu não amo você. Menti que me casaria, porque desejava que o meu reino florescesse. Eu pretendo me casar com a princesa do reino vizinho, para poder ampliar o meu reino.”.

A feiticeira, com o seu manto azul recoberto de estrelas, pareceu mais alta do que era porque esticou o corpo e levantou os braços enquanto dizia: “Você mentiu para mim durante três meses, e o seu filho viverá na escuridão durante trinta anos, porque os olhos dele não suportarão a luz do sol.”. No mesmo instante, ela desapareceu.

No dia seguinte, o rei casou-se com a princesa que garantiria a expansão de seus domínios e de suas riquezas. Após um ano, o primeiro e único filho que o casal teria nasceu.

Eram poucas as pessoas que conheciam o garoto, porque ele frequentava apenas os cômodos que possuíam grossas cortinas cobrindo as janelas.

A ambição do rei cedeu lugar à tristeza e ao arrependimento. Ele não demorou a descobrir que também não amava a sua esposa. E, com o passar do tempo, a saudade começou a pressionar o seu coração. Ele repetia a si mesmo: “Saudade!... Eu deveria odiá-la pelo mal que ela causou ao meu filho e, no entanto, eu sinto saudade!... Como posso sentir saudade se não a amo?!... Se eu não a amasse, não sentiria saudade!... Será que a amo?!... Não!... Não pode ser!...”.

E o inesperado aconteceu... A rainha, que antes brilhava em festas e bailes deslumbrantes, não conseguia se habituar a viver naquele palácio sombrio. Entristecida, ela costumava pensar: “Não é porque o meu filho não suporta a luz que eu sou obrigada a reduzir o meu esplendor!... Eu quero ser feliz!... E, para isso, tenho que voltar a ser livre!... Preciso partir!...”. E, certo dia, a rainha comunicou ao rei que o casamento estava desfeito; ela deixaria o filho aos cuidados dele e voltaria a morar em seu antigo castelo. Embora surpreso com a decisão da rainha, o rei não se animou a colocar objeções... Ele também ansiava pela liberdade porque sentia saudade da feiticeira.

Quando sua ex-esposa partiu, o rei foi procurar a feiticeira para dizer: “Você poderá pensar que estou aqui apenas por causa do meu filho, mas isso não é verdade. Descobri que amo você e peço que me perdoe.”.

Bebendo da sinceridade que parecia haver nos olhos do rei, a feiticeira disse: “Se o que você diz é verdade, o seu filho neste exato momento já está curado. Por outro lado, se o que você diz é mentira, você não tornará a vê-lo porque eu o colocarei sob minha proteção.”.

Esticando o corpo e levantando os braços, a feiticeira pronunciou as palavras: “Ventos, ventos, formem um redemoinho e me tragam o filho do rei se ele estiver mentindo. Agasalhem-no, cubram-no, protejam-no dos olhos deste pai mentiroso!...”.

A feiticeira esperou, esperou, e nada aconteceu... Os ventos permaneceram calmos, e o coração dela também serenou. Com a voz encharcada de paixão, ela perguntou: “Quando você descobriu que me amava?!...”.

O rei, retribuindo a ternura que havia nos olhos da feiticeira, disse: “Eu sempre a amei, mas talvez não quisesse admitir... Foi a saudade que fez com que eu compreendesse que nada tem sentido quando estou longe de você.”. A feiticeira sorriu, e o rei a beijou.

Quando o beijo terminou, o rei ficou surpreso ao verificar que estavam no jardim do palácio. E ele ficou radiante quando ouviu o filho chamando por ele e o viu correndo em sua direção sob a luz do sol.



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