domingo, 16 de agosto de 2015

TANGERINO E A CARTOMANTE


Aquela já era a quinta vez que Tangerino caminhava de uma esquina à outra. Ele ia e voltava, ia e voltava!... E não se encorajava a entrar no prédio onde a Cartomante morava.

Ele gostava de compor e tocar violão nas horas vagas. No início, isso era apenas uma distração. Mas, com o passar do tempo, acabou se tornando algo necessário... Ele só se sentia bem se estivesse casando as notas do violão com as palavras da canção.

Quando ele estava percorrendo pela sexta vez o mesmo trajeto, ele parou na metade e entrou no prédio. A Cartomante o recebeu na sala de jantar do seu apartamento. Tangerino reparou que a decoração era estranha, mas ele preferiu não prestar atenção aos detalhes e ir direto ao assunto que o preocupava.

Ele tencionava despejar o motivo que o conduzira até ali, mas calou-se no momento em que a Cartomante disse: “Espere, não diga nada, porque não é preciso. Está vendo essa cadeira aí, ao seu lado?... Existe um jovem sentado nela. Embora você não consiga vê-lo, ele está aí, e é ele quem o influencia a estar sempre de posse do violão. Quando ele ainda era vivo, ele tocava e cantava durante horas, mas um acidente abreviou a estadia dele neste plano. Como você também é apaixonado por Música, ele permanece ao seu lado, porque deseja ter a oportunidade de inspirá-lo.”.

Contemplando o ar de descrença no rosto de Tangerino, a Cartomante acrescentou: “Você pode não acreditar, mas eu também não estou sozinha. Está vendo esta cadeira aqui do meu lado?... Existe uma mulher sentada nela. Eu possuo vários dons, mas não foi o dom da adivinhação que me falou sobre o rapaz que o acompanha, e sim esta mulher ao meu lado. Em vida, ela gostava de ajudar as pessoas... E é isso o que ela continua fazendo. Você ainda não acredita?!... Tudo bem!... Não precisa acreditar. Saiba apenas que, enquanto a paixão de vocês dois pela Música estiver em sintonia, vocês estarão se beneficiando mutuamente. Agora vá.”.

Tangerino só conseguiu encontrar palavras para perguntar: “Quanto lhe devo?”. A Cartomante respondeu: “Nada, absolutamente nada. Sou eu a devedora, porque você me deu a oportunidade de exercitar o dom que tenho de ver e ouvir as pessoas que se tornaram invisíveis e inaudíveis nesta dimensão.”.

Tangerino agradeceu e já estava se retirando quando a Cartomante lhe disse: “Você também tem um dom muito precioso.”. Apenas para evitar ser indelicado, ele perguntou: “E que dom é esse?...”. E a Cartomante respondeu: “Você confia na intuição e consegue perceber e juntar as peças dos quebra-cabeças que a inspiração constantemente lhe fornece. Virar as costas para essa habilidade afastará certamente o jovem que o acompanha. Mas, ao mesmo tempo, também afastará você de si mesmo. Não questione o dom que Deus lhe deu. Aprimore-o e fortaleça-o, para que ele possa revelar o universo que existe em seu interior.”.



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