Os guardas da prisão entreolharam-se antes de um deles comentar: “Ele não é normal. Outro, no lugar dele, não teria presença de espírito para continuar agindo como se nada estivesse acontecendo. Ele pede sempre mais cadernos e canetas!... O que será que ele tanto escreve?!...”.
O outro guarda respondeu: “Histórias. Você tem razão: ele não é normal. Eu ouvi dizer que, antes mesmo de ser preso, ele já vivia isolado naquela cabana e passava horas e horas escrevendo coisas que apenas ele teria vontade de ler. Essas histórias devem ter mexido com a cabeça dele porque ele insiste em dizer que não teve nada a ver com o desaparecimento do menino. Ele chegou mesmo a afirmar que foi o mago, conselheiro do rei, quem o raptou porque o rei precisava de um herdeiro.”.
E essa era a mais pura verdade. Verásio estava em sua cabana escrevendo quando um menino bateu à porta gritando por socorro. Antes de abrir a porta, Verásio olhou pela janela e viu o garoto lutando para libertar o braço da mão forte que o segurava. E o mago, vestido com seu manto negro, dizia: “Acalme-se, Alteza... Se não se acalmar, acabará se machucando. Beba este líquido, e logo estaremos na dimensão onde os sonhos se realizam.”.
O mago obrigou o menino a beber o líquido viscoso, e os dois desapareceram sem deixar vestígios. Verásio foi preso e não conseguiu provar que nada teve a ver com o desaparecimento do garoto. Ele sempre gostou de escrever, mas agora era por esse motivo que ele escrevia alucinadamente. Ele precisava se conectar àquela dimensão para conseguir trazer o menino de volta.
E finalmente Verásio conseguiu!... Em sua imaginação, ele ouvia o garotinho insistindo que não desejava afastar-se de sua realidade, porque amava Maria e jurara que, quando ele crescesse, se casaria com ela. O amor opera milagres!... Nada do que Olavo dissera antes convenceu o mago e o rei a libertá-lo, mas o amor que ele sentia por Maria era um sentimento puro e raro que precisava ser preservado.
O coração de Verásio tranquilizou-se porque ele guardava a certeza de que Olavo retornaria.
Na manhã seguinte, o garoto reapareceu, e Verásio foi libertado. Os pais de Olavo só consentiram que Verásio conversasse com ele uma semana depois. Verásio sentiu o abraço gelado da decepção quando verificou que a lembrança de ter estado naquela dimensão em que ele poderia ter se tornado rei tinha desaparecido da mente de Olavo sem deixar vestígios.
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