segunda-feira, 10 de agosto de 2015

O DESENHO DE AURÉLIO E A HISTÓRIA DE LILIANA


Por que Liliana gostava tanto de escrever?... Talvez fosse pelo mesmo motivo que Aurélio gostava de desenhar!...

Não!... Liliana escrevia porque a sua natureza sentia necessidade de mergulhar no mundo de sonhos que sua imaginação criava. Mas Aurélio não costumava entregar-se ao devaneio. Ele gostava de observar o mundo ao seu redor e sentia prazer em descobrir o que a sua mão conseguia criar. Não!... Criar talvez não fosse a palavra exata. Representar expressava melhor o que o dom de Aurélio permitia que ele fizesse.

Certo dia, Aurélio e Liliana se encontraram em uma biblioteca. Liliana parou de escrever no momento em que ouviu Aurélio perguntar: “O que você está fazendo?... Uma redação para a escola?”. Liliana respondeu: “Não. Estou escrevendo uma história. O que você está desenhando?!... É um despertador?!... Por que você está desenhando um despertador?!...”.

Aurélio exclamou: “Odeio acordar cedo!... Como não posso destruir o meu despertador porque a minha mãe ficaria furiosa, resolvi desenhar um para detoná-lo.”.

Liliana disse: “Eu não compreendo... Você seria capaz de destruir o seu desenho?!... Em vez de acender o pavio da dinamite, você poderia livrar o despertador dessa ameaça e permitir que eu escrevesse uma história para ele.”.

Aurélio perguntou: “Está falando sério?!... Você está querendo salvar o despertador da destruição para colocá-lo em uma história?!... Ele já está inserido em um contexto trágico: será destruído para não ter a oportunidade de acordar mais ninguém.”.

Liliana levantou-se. Preferia ir embora a iniciar uma discussão sem propósito. Aurélio perguntou: “Aonde vai?... Eu pensei que estivéssemos conversando!... Não me diga que ficou zangada!... Ainda bem que você não viu o que eu faço com os bonecos que desenho!... O último eu cortei ao meio com a borracha. Sente-se, por favor. É como eu disse: são só desenhos!... Você não vai me deixar aqui, falando sozinho, apenas porque eu me divirto destruindo os meus próprios desenhos!...”.

Liliana sentou-se e olhou nos olhos de Aurélio enquanto dizia: “Eu adoro escrever, mas não sei desenhar. As pessoas não são atraídas pelo texto e sim pela imagem... Se eu soubesse desenhar, eu jamais destruiria os meus desenhos. Eu os protegeria e criaria histórias para eles. Esse seu despertador, por exemplo, ele poderia pertencer a um mago que desejava controlar o tempo... Ele poderia apressar os acontecimentos... Bastaria que ele programasse o despertador para que a magia fosse realizada no momento desejado... O toque do despertador substituiria as palavras mágicas...”.

Aurélio não conseguiu segurar o riso quando exclamou: “Você é maluca!... De onde tirou essa ideia que não tem nada a ver com o meu despertador?!... Ele terá um fim mais glorioso sendo destruído do que pertencendo a esse mago que a sua imaginação criou. Por que está chorando?!... Eu não tive a intenção de ofendê-la... Eu só disse o que penso!...”.

Com a voz mesclada de mágoa, Liliana perguntou: “Se eu valorizo o seu desenho, por que você zomba da minha história?!... Por mim, você pode guardar esse seu despertador, explodi-lo, refazê-lo e tornar a destruí-lo quantas vezes tiver vontade!...”.

Olhando nos olhos de Liliana, Aurélio disse: “Eu tenho uma ideia melhor: Apagarei a corda e a dinamite, enfeitarei o despertador e desenharei o mago, que desejava controlar o tempo, ao lado dele. Está feliz agora?...”.

Sorrindo, Liliana respondeu: “Sim. Obrigada!... Você ainda não me disse o seu nome... Eu me chamo Liliana.”. Aurélio retribuiu o sorriso quando disse: “O meu nome é Aurélio. Se você vier aqui amanhã, eu lhe entrego o desenho.”.

Aurélio e Liliana se encontraram no dia seguinte. Ela sorriu ao ver o desenho, e ele leu a história que ela havia escrito. Embora Aurélio ainda pensasse que a história não tinha nada a ver com o despertador que ele desenhara, para evitar aborrecer Liliana, ele preferiu se calar a esse respeito. E aquele foi o início de uma duradoura amizade.




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