Poucas pessoas
tomarão conhecimento desta história e menos pessoas ainda acreditarão nela,
porque o dom de ouvir o que os objetos contam é muito raro. Eu, Fabrício,
possuo essa faculdade e, certo dia, a caminho do trabalho, eu estava
atrasadíssimo e resolvi pegar um atalho para economizar alguns minutos.
Atravessei a praça
proibida. Foi assim que ela ficou conhecida após o desaparecimento de um
garoto. Embora esse fato tivesse ocorrido muito antes de eu nascer, minha mãe
falava sobre ele como se fosse recente e não permitia que eu brincasse na
praça. Ela dizia que sua bisavó contava que um garoto praticamente morava no
banco da praça. Era lá que ele dormia e era lá que ele se sentava para fazer
suas refeições. Todos que por ali passavam zombavam do enorme chapéu, que ele
usava na tentativa de esconder o topo de sua cabeça desproporcional. Não era
apenas o chapéu que chamava a atenção dos transeuntes. Parte do chapéu era
coberta por um capuz costurado à enorme capa, que ele usava para esconder sua
corcunda volumosa. Ninguém o acolheu, ninguém o amparou… Numa manhã de domingo,
encontraram apenas o chapéu e a velha capa com o capuz sobre o banco, que
conhecia aquele garoto como ninguém.
Ancorado no passado,
eu contemplava o velho banco, que parecia ansioso para revelar o segredo há
muito guardado. Eu tive que escolher: ou eu abraçava a pressa e saía correndo
para não chegar atrasado, ou eu me fechava para o mundo exterior e usufruía
daquele momento único e mágico.
Após breve hesitação,
sentei no banco e direcionei a minha atenção para o que ele dizia: “Embora o
garoto parecesse frágil, ele era forte e infinitamente poderoso. Quebradiço era
o coração de quem lhe virava as costas e permanecia indiferente à sua aparente
miséria. É verdade: o garoto não era um órfão deserdado da sorte. Ele era um
anjo, enviado para enternecer os corações enregelados pelo desamor. Como você,
ele também me ouvia, e podíamos conversar quando a solidão o deprimia. O dia de
sua partida infelizmente chegou e, no momento da despedida, ele tirou a capa e
o chapéu, permitindo que eu o visse em todo o seu esplendor. A sua cabeça não
era enorme como eu acreditava que fosse. O que a fazia aparentar ser grande era
a auréola que ele precisava esconder. E eu descobri que ele fingia ser corcunda
porque também tinha a necessidade de ocultar suas asas brancas e acetinadas.
Enquanto ele depositava sobre mim o chapéu e a capa, agradeceu-me pela acolhida
e desapareceu como por encanto. Eu me emocionei e, se eu tivesse olhos e
lágrimas, certamente, eu teria chorado.”
Sisi Marques
OS OBJETOS CONTAM HISTÓRIAS
Ontem, quando eu,
Caetano Augusto Petrarca dos Anjos, caminhava para o trabalho, um personagem
desconhecido surgiu na minha mente e prendeu a minha atenção quando disse:
“Todos os objetos ‘contam’ histórias, e eu tenho o dom de ‘ouvir’ essas
histórias.”
Naquele momento, eu
não saberia dizer se aquele personagem voltaria a visitar a minha imaginação
para acrescentar algo ao que ele dissera. Posteriormente, ele me presenteou com
a história “Relato do Banco da Praça Proibida”.
Ainda a caminho do
trabalho, eu olhei para um solitário banco de cimento, colocado em uma praça.
Lamentei estar com pressa, e não poder parar para ouvi-lo. Felizmente
lembrei-me de fotografá-lo com a câmera da minha mente. Toda a história do
velho banco desgastado pelo tempo foi captada por essa “fotografia mental”. Ela
é tão vívida que até a sua imaginação pôde vê-la. Você conseguiu ouvi-la?…
Ainda não?!...
Leia novamente a
história que Fabrício me contou depois que comecei a me concentrar no que
aquele banco desejava dizer. Não copie a história de Fabrício. Imagine que, de
repente, de um modo maravilhoso e inexplicável, um personagem passou a habitar
a sua imaginação, e começou a contar-lhe histórias. Bom entretenimento!
Sisi Marques
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