domingo, 2 de fevereiro de 2014

RELATO DO BANCO DA PRAÇA PROIBIDA


RELATO DO BANCO DA PRAÇA PROIBIDA


 
Poucas pessoas tomarão conhecimento desta história e menos pessoas ainda acreditarão nela, porque o dom de ouvir o que os objetos contam é muito raro. Eu, Fabrício, possuo essa faculdade e, certo dia, a caminho do trabalho, eu estava atrasadíssimo e resolvi pegar um atalho para economizar alguns minutos.

Atravessei a praça proibida. Foi assim que ela ficou conhecida após o desaparecimento de um garoto. Embora esse fato tivesse ocorrido muito antes de eu nascer, minha mãe falava sobre ele como se fosse recente e não permitia que eu brincasse na praça. Ela dizia que sua bisavó contava que um garoto praticamente morava no banco da praça. Era lá que ele dormia e era lá que ele se sentava para fazer suas refeições. Todos que por ali passavam zombavam do enorme chapéu, que ele usava na tentativa de esconder o topo de sua cabeça desproporcional. Não era apenas o chapéu que chamava a atenção dos transeuntes. Parte do chapéu era coberta por um capuz costurado à enorme capa, que ele usava para esconder sua corcunda volumosa. Ninguém o acolheu, ninguém o amparou… Numa manhã de domingo, encontraram apenas o chapéu e a velha capa com o capuz sobre o banco, que conhecia aquele garoto como ninguém.

Ancorado no passado, eu contemplava o velho banco, que parecia ansioso para revelar o segredo há muito guardado. Eu tive que escolher: ou eu abraçava a pressa e saía correndo para não chegar atrasado, ou eu me fechava para o mundo exterior e usufruía daquele momento único e mágico.

Após breve hesitação, sentei no banco e direcionei a minha atenção para o que ele dizia: “Embora o garoto parecesse frágil, ele era forte e infinitamente poderoso. Quebradiço era o coração de quem lhe virava as costas e permanecia indiferente à sua aparente miséria. É verdade: o garoto não era um órfão deserdado da sorte. Ele era um anjo, enviado para enternecer os corações enregelados pelo desamor. Como você, ele também me ouvia, e podíamos conversar quando a solidão o deprimia. O dia de sua partida infelizmente chegou e, no momento da despedida, ele tirou a capa e o chapéu, permitindo que eu o visse em todo o seu esplendor. A sua cabeça não era enorme como eu acreditava que fosse. O que a fazia aparentar ser grande era a auréola que ele precisava esconder. E eu descobri que ele fingia ser corcunda porque também tinha a necessidade de ocultar suas asas brancas e acetinadas. Enquanto ele depositava sobre mim o chapéu e a capa, agradeceu-me pela acolhida e desapareceu como por encanto. Eu me emocionei e, se eu tivesse olhos e lágrimas, certamente, eu teria chorado.”

Sisi Marques




 OS OBJETOS CONTAM HISTÓRIAS

Ontem, quando eu, Caetano Augusto Petrarca dos Anjos, caminhava para o trabalho, um personagem desconhecido surgiu na minha mente e prendeu a minha atenção quando disse: “Todos os objetos ‘contam’ histórias, e eu tenho o dom de ‘ouvir’ essas histórias.”

Naquele momento, eu não saberia dizer se aquele personagem voltaria a visitar a minha imaginação para acrescentar algo ao que ele dissera. Posteriormente, ele me presenteou com a história “Relato do Banco da Praça Proibida”.

Ainda a caminho do trabalho, eu olhei para um solitário banco de cimento, colocado em uma praça. Lamentei estar com pressa, e não poder parar para ouvi-lo. Felizmente lembrei-me de fotografá-lo com a câmera da minha mente. Toda a história do velho banco desgastado pelo tempo foi captada por essa “fotografia mental”. Ela é tão vívida que até a sua imaginação pôde vê-la. Você conseguiu ouvi-la?… Ainda não?!...

Leia novamente a história que Fabrício me contou depois que comecei a me concentrar no que aquele banco desejava dizer. Não copie a história de Fabrício. Imagine que, de repente, de um modo maravilhoso e inexplicável, um personagem passou a habitar a sua imaginação, e começou a contar-lhe histórias. Bom entretenimento!


Sisi Marques


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