Era uma vez uma princesa que passava horas e horas, na torre
mais alta do castelo, imaginando histórias. O rei, preocupado com o estranho
passatempo de sua filha, ordenou a um de seus conselheiros que fosse
convencê-la a ocupar o tempo de outras formas.
O conselheiro sugeriu à jovem que lesse, bordasse, cavalgasse, fizesse
qualquer outra coisa, menos inventar histórias. E a princesinha respondeu: “Eu
não as invento!... Quando eu fico sozinha na torre, aparece uma velhinha. Ela
traz enrolado, nas costas, um tapete velho e empoeirado... Quando ela joga o
tapete no chão e se curva para desenrolá-lo, o ar fica repleto de um pó dourado
que me obriga a fechar os olhos. Quando eu torno a abri-los, cada vez estou em
um lugar diferente.”
O conselheiro, após conversar com a princesa, foi procurar o
rei para dizer: “Majestade, a princesa
abriga, em seu coração, o hábito de mentir. Ela mente, ela mente
deliberadamente!...” A revelação do conselheiro entristeceu o rei porque,
naquele reino, mentir era proibido, e ele teria que enviar a princesinha para o
interior da floresta.
Silmara, a princesinha, recontou sua história, chorou,
implorou, mas ninguém se comoveu, porque todos acreditavam que ela estivesse
querendo enganá-los para fugir à reclusão. E a pobrezinha foi abandonada em uma
casa no meio da floresta, de onde jamais conseguiria retornar.
No meio da noite, cansada de tanto chorar e soluçar, Silmara
adormeceu e, em seu sonho, ela se encontrou com a velhinha, que lhe disse: “Não
se preocupe; vir para esta floresta fazia parte do seu destino. O castelo de
seu pai será invadido e a coroa roubada. Quando você acordar, encontrará o
tapete mágico ao lado de sua cama. Não se deixe conduzir pelo medo ou pela desesperança.
Confie em seu coração para guiar a sua imaginação. No final de cada história
que você criar, desenrole o tapete para que o pó mágico transforme em realidade
tudo o que você tiver imaginado. Com a sua determinação e perseverança, cada
história construirá uma parte da estrada que a levará, com toda a sua fantasia,
ao castelo de seu pai.”
E Silmara fez exatamente o que a velhinha lhe dissera. As
histórias foram formando carreiras, e os trechos da estrada começaram a
aparecer, recobertos pela luz dourada que era fornecida pelo pó do tapete da
velhinha. E essa estrada era povoada pelos seres mágicos que a imaginação de
Silmara havia criado.
O mago, que havia invadido o reino do pai de Silmara,
impregnou tudo com sua nefasta magia e sentiu-se ameaçado com a proximidade da
luz. Mas é exatamente nesse ponto que algo esplêndido aconteceu: o mago, que
sempre temeu a luz, inexplicavelmente, passou a desejá-la do fundo de seu
coração. Coração!... Estagnaldo nunca havia prestado atenção às batidas de seu
coração!... Ele resolveu esperar.
E a estrada, formada com as histórias de Silmara e o pó
mágico do tapete da velhinha, se alongava dia após dia. Finalmente, a fantasia tocou
a realidade, e o reino do pai de Silmara ficou livre da magia opressora de
Estagnaldo. O próprio mago parecia ter se libertado de sua nefasta magia,
porque ele sorriu quando os seus olhos contemplaram o cenário luminoso que
atribuía graça à futura rainha.
Naquele momento, Estagnaldo pensou: “A princesa é belíssima e
graciosa. Preciso mudar para que eu possa ser aceito por ela.” Silmara, que
parecia ler o pensamento de Estagnaldo, sorriu, e o seu sorriso transformou o
terrível mago em um príncipe apaixonado e sincero.
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