segunda-feira, 23 de junho de 2014

O PRÍNCIPE, O TIGRE E A PRINCESA



O príncipe Estevão possuía uma floresta no interior de seu reino, onde a caça era proibida, e os animais viviam livres e seguros.  Certa vez, ele estava caminhando pela floresta, e foi seguido por um tigre gigantesco.  Apesar do porte altivo e ameaçador do felino, o jovem príncipe percebeu que ele era manso, e os dois tornaram-se amigos. Com o passar do tempo, o tigre passou a viver no palácio. Coincidência ou não, o tigre desapareceu no dia em que a princesa Joseni foi visitá-lo.  

A princesa possuía muitos escravos. E um dos escravos da princesa tornou-se o centro das atenções do príncipe Estevão. Ele tinha a certeza de já ter visto aquele rosto... A doçura no olhar do escravo lhe trazia à lembrança as feições do seu amigo tigre. Estevão ouvira muitas histórias sobre a princesa, mas, na época, recusou-se a crer que tivessem um fundo de verdade. Ele começou a se perguntar se ela seria mesmo uma feiticeira capaz de transformar animais selvagens em seres humanos, para servi-la.

O amor que a princesa fizera despertar no coração do príncipe, pouco a pouco, foi murchando, e ele jurou a si mesmo que, custasse o que custasse, ele encontraria um modo de trazer o seu amigo de volta. O escravo, que ele poderia jurar que era o tigre, parecia não se lembrar de nada e se mantinha submisso às ordens da princesa. O príncipe demonstrou interesse em comprá-lo, e eis aqui o que a princesa respondeu: “Vender o meu escravo, não posso vendê-lo, mas, se você aceitar casar-se comigo, ele também será seu.”

Estevão não poderia casar-se com Joseni, porque temia que ela enfeitiçasse também os outros animais que moravam na floresta. Ele arriscou tudo quando disse: “Não sou um homem de meias palavras... Devolva o meu tigre, e vá embora!...” A princesa murmurou: “Eu não compreendi...”

O príncipe percebeu a inutilidade de esperar que a princesa confessasse o seu crime. Ele pensou por alguns instantes, e acabou tendo uma ideia. Disse: “Eu amo você, mesmo sabendo que você transforma animais selvagens em escravos. Eu me preocupo com o tigre, porque ele tem uma doença rara e contagiosa. Se ele não for tratado, ficará debilitado e envelhecerá precocemente.”

Estevão fixou o olhar no rosto da princesa, para verificar o efeito de suas palavras, e surpreendeu-se quando a ouviu dizer: “Que monstro você é!... Não me assemelho a você. Saiba que ouvi relatos comprometedores a seu respeito. Eu nunca tive a intenção de me casar com você. Faço parte de uma organização que tem por finalidade proteger os animais, e eu estava determinada a impedir que você continuasse usando a floresta para jogos de caça. Eu partirei. E você terá que se entender com pessoas influentes que não têm tanta paciência e tolerância quanto eu.”

O príncipe preferiu calar-se a rebater as acusações sem fundamento. À noite, ele perdeu o sono. Desejava que a princesa partisse logo pela manhã. Ele não acreditava que pudesse tornar a rever o seu amigo. Arrependeu-se de ter inventado aquela história toda sobre ele estar doente. Temia que a princesa o matasse com receio de que a doença contaminasse os outros escravos. Estevão alarmou-se com o pensamento de que os outros escravos também pudessem ser animais.

Quando o príncipe adormeceu, o dia já havia clareado. Mas ele acordou revigorado e satisfeito, porque foi despertado pelo amigo tigre, lambendo o seu rosto. Ele nunca mais ouviu falar da princesa Joseni, e viveu feliz desde então.






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