quinta-feira, 26 de junho de 2014

CLÓVIS E O FANTASMA QUE TEIMAVA EM DORMIR DEBAIXO DA CAMA




Eu, Caetano Augusto Petrarca dos Anjos, não publicaria esta história, se ela não tivesse sido escrita por alguém que eu aprendi a amar. Foi Rui quem a escreveu antes de ser atraído para a dimensão dos personagens ignorados: “Clóvis e o Fantasma que teimava em dormir debaixo da cama”.

Clóvis gostava de morar sozinho; mas, resolveu dividir a casa, incluindo o seu próprio quarto, para ajudá-lo a pagar as dívidas que se avolumavam. Embora Clóvis fosse muito honesto e sempre dissesse a verdade, havia algo que ele não poderia revelar ao seu inquilino: a presença de um fantasma que teimava em dormir debaixo da cama.

Se o fantasma ficasse quietinho, não haveria problema, mas ele roncava... Roncava tanto que não deixava ninguém dormir. O próprio Clóvis colocava algodão nos ouvidos para abafar o ruído. Conclusão: ninguém conseguia se hospedar na casa de Clóvis. E todos pensavam que era ele que roncava. Ele pedia para o fantasma ir dormir em outro lugar, mas de nada adiantava. Foi o fantasma quem construiu a casa quando era jovem e, mesmo depois de morto, ele ainda se considerava o proprietário.

Certo dia, um homem idoso apareceu para ocupar a vaga, que estava sempre disponível. Clóvis ficou satisfeito quando soube que ele era surdo. À noite, o fantasma roncou, roncou... Ele roncava alto e propositadamente... Mas não conseguiu perturbar o sono do velhinho, que também roncava... E roncava até mais alto do que o fantasma.

O fantasma, com o passar do tempo, aborreceu-se e partiu. O velhinho mora na casa de Clóvis até hoje. E Clóvis, mesmo com os chumaços de algodão nos ouvidos, ainda o ouve roncar. Há ocasiões em que o velhinho ronca tão alto que Clóvis chega a perder o sono. Quando isso acontece, Clóvis se lembra com saudade do fantasma que teimava em dormir debaixo da cama.

Rui Petrarca dos Anjos



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