Eu, Caetano Augusto
Petrarca dos Anjos, não publicaria esta história, se ela não tivesse sido
escrita por alguém que eu aprendi a amar. Foi Rui quem a escreveu antes de ser
atraído para a dimensão dos personagens ignorados: “Clóvis e o Fantasma que teimava
em dormir debaixo da cama”.
Clóvis gostava de morar
sozinho; mas, resolveu dividir a casa, incluindo o seu próprio quarto, para
ajudá-lo a pagar as dívidas que se avolumavam. Embora Clóvis fosse muito
honesto e sempre dissesse a verdade, havia algo que ele não poderia revelar ao
seu inquilino: a presença de um fantasma que teimava em dormir debaixo da cama.
Se o fantasma ficasse
quietinho, não haveria problema, mas ele roncava... Roncava tanto que não
deixava ninguém dormir. O próprio Clóvis colocava algodão nos ouvidos para
abafar o ruído. Conclusão: ninguém conseguia se hospedar na casa de Clóvis. E
todos pensavam que era ele que roncava. Ele pedia para o fantasma ir dormir em
outro lugar, mas de nada adiantava. Foi o fantasma quem construiu a casa quando
era jovem e, mesmo depois de morto, ele ainda se considerava o proprietário.
Certo dia, um homem
idoso apareceu para ocupar a vaga, que estava sempre disponível. Clóvis ficou
satisfeito quando soube que ele era surdo. À noite, o fantasma roncou,
roncou... Ele roncava alto e propositadamente... Mas não conseguiu perturbar o
sono do velhinho, que também roncava... E roncava até mais alto do que o
fantasma.
O fantasma, com o
passar do tempo, aborreceu-se e partiu. O velhinho mora na casa de Clóvis até
hoje. E Clóvis, mesmo com os chumaços de algodão nos ouvidos, ainda o ouve
roncar. Há ocasiões em que o velhinho ronca tão alto que Clóvis chega a perder
o sono. Quando isso acontece, Clóvis se lembra com saudade do fantasma que
teimava em dormir debaixo da cama.
Rui Petrarca dos Anjos
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